terça-feira, 2 de abril de 2013

Albert Speer - Por Dentro do III Reich (07) parte II


Por Dentro do III Reich - 07 1975 - parte 2


Albert Speer - Por Dentro do III Reich (07/34)

Capítulo sete - Obersaltzberg

pp. 111-115

Da vida social em Obersaltzberg só me ficou um vazio. Por sorte que, durante meus primeiros anos de prisão, anotei alguns modismos, usuais nas conversas, e que agora posso considerar autênticos.

Em muitas das conversas, à sobremesa ou na hora do chá, falavam de modas, da criação de cachorros, de teatro, de cinema, de operetas e suas estrelas, tudo isso  entremeado de referências mesquinhas à vida das famílias de outras pessoas. Hitler pouco se referia à questão judaica, aí inimigos políticos internos, e muito menos à instalação de campos de concentração. Isso se devia mais à trivialidade das conversas do que a uma intenção predeterminada. Mas, por outro lado, Hitler divertia-se freqüentes vezes à  custa dos seus mais próximos colaboradores. Não é por acaso que me ficaram gravadas estas observações da memória, pois, no final de contas, tratava-se de pessoas acima de qualquer crítica pública. No círculo íntimo de Hitler ninguém estava obrigado a guardar silêncio. No caso das mulheres, ele dizia encarecer de sentido obrigarem-nas a ficarem caladas. Pretendia causar alguma impressão, quando falava com desprezo de alguém ou de muitos? Tratava-se de um menosprezo geral para que com pessoas e acontecimentos?

Freqüentemente Hitler comentavam do mito de Himmler com suas SS:

- Que insensatez! E agora que afinal fomos tão longe, em uma época em que se deixou para trás toda a classe de misticismo, vamos outra vez iniciar desde o começo. Para isso, poderíamos ter ficado com a Igreja. Esta, pelo menos, tem tradição. A idéia corajosa a de eu algum dia ser canonizado "santo das SS". Veja o senhor! Eu me moveria na sepultura.

- Este Himmler pronunciou um outro discurso, em que dá a Carlos Magno o qualificativo de Carniceiro da Saxônia. Ao contrário da opinião de Himmler, a matança de um grande número de saxões não foi um crime histórico. Carlos Magno agiu muito acerto, subjugando Widukind, matando sem rodeios os saxões. Isso possibilitou a formação do Reino dos Rrancos e a penetração da cultura do ocidente na Alemanha de nosso tempo.

Himmler mandou que se fizessem escavações pré-históricas de que participavam cientistas.

- Por que mostrar a todo mundo que não temos nenhum passado? Pelo visto, já não basta que os romanos tivessem levantado suas grandes obras quando nossos antepassados ainda viviam em choças de barro. Agora Himmler tem que fazer escavações, dessas aldeias de casas de barro, para entusiasmar-se quando encontrar um caco de argila, um machado de pedra. Assim, provaremos que ainda lutávamos com machados de terra e estávamos de cócoras, em torno de tendas e fogueiras, ao ar livre, quando a Grécia e Roma tinham chegado ao seu mais alto grau de civilização. Para  falar a verdade, nós tínhamos toda a razão para silenciar sobre esse passado. Mas, em vez disso, Himmler propala-o aos quatro ventos. Como os romanos de hoje não estão rindo desses descobrimentos?

No âmbito do seus colaboradores políticos, quando estavam em Berlim, Hitler manifestava-se duramente contra a Igreja. No entanto, entregava um tom menos agressivo, na presença de mulheres que, sendo oferecido um dos muitos exemplos de suas cautelas em manifestar seus pensamentos de acordo com as pessoas que o ouviam.

Em outra ocasião, naquele círculo, declarou:

- Não há dúvida, a Igreja é necessária ao povo. É um elemento forte e conservador.

Falando assim referia-se a um instrumento que estava ao seu lado:

- O Reibi - assim se denominava o primaz do Reich, Ludwig Müller - teria de ser um personagem... mas considerando-se a nomeação para essa função de um pequeno sacerdote castrense! De boa vontade eu lhe daria o todo o meu apoio... poderia ser a Igreja do Estado, como acontece na Inglaterra.

Mais uma vez, em 1942, em uma conversa na hora do chá, em Obersaltzberg Hitler acentuou que considerava imprescindível a Igreja na vida do Estado. Afirmou que seria feliz se um dia encontrasse um homem da Igreja bastante habilitado a dirigi-la, ou, se possível, não uma porém as duas. Enquanto falava assim, condenava a luta contra a Igreja como um atentado ao futuro de um povo. Em sua opinião, era impossível substituir a Igreja por "uma ideologia de partido". Indiscutivelmente, depois de um largo período, a Igreja saberia adaptar-se aos fins políticos do nacional-socialismo. Deus tem sabedoria e assim solucionaria os problemas políticos no decurso da história. Uma nova religião, apoiada em um partido, nada mais seria do que um retrocesso ao misticismo medieval. Isso era demonstrado pelo mito das SS pelo incompreensível livro de Rosenberg O mito do século XX.

Se em um daqueles monólogos Hitler tivesse manifestado um pensamento de oposição à Igreja, Bormann com certeza teria tirado de um bolso uma folha de papel em branco para anotar as palavras do Führer, como era do seu hábito. E ele o fazia com mais interesse quando se tratava de opiniões hoje depreciativas à Igreja naquela ocasião, eu supus que ele tivesse fazendo uma biografia de Hitler.

Quando, mais ou menos em 1937, Hitler soube que muitos partidários seus se tinham afastado da Igreja, por instigação do partido e das SS, pois a Igreja resistia, obstinadamente, às diretrizes de Hitler, este, por oportunismo, ordenou que seus colaboradores mais importantes continuassem membros da Igreja, particularmente Goering e Goebells. Também ele continuaria na Igreja Católica, embora não tivesse nenhum vínculo espiritual com ela. E assim continuou até o suicídio.

A concepção de Hitler e de sua Igreja estatal poderia ser imaginada pela narrativa, freqüentemente repetida, de uma delegação de árabes nobres: segundo teriam explicado os visitantes, os maometados foram derrotados na  Batalha de Poitiers e, quando pretenderam invadir a Europa através da França. Se os árabes tivessem ganho a batalha, o mundo seria muçulmano. De fato, teria imposto aos povos germânicos uma religião que, pela sua doutrina - propagação da fé pela espada e submissão dos povos a essa fé -, estaria de completo acordo com o caráter dos germanos. Por causa da inferioridade racial, depois de anos, os conquistadores não teriam conseguido impor-se aos habitantes dessa área geográfica, mais rigorosos, mais acostumados à áspera natureza do solo. No final, não teriam sido os árabes, mas os germanos maometanizados,  que estariam no governo desse império mundial dinâmico.

Hitler costumava terminar naquela argumentação com a seguinte observação:

- Temos, precisamente, a desgraça de que a nossa religião não nos convém. Por que não temos a religião dos japoneses, cuja aspiração máxima está no sacrifício pela Pátria? Para nós a religião maometana  teria sido melhor do que o Cristianismo, uma religião frouxa e paciente.

Considere-se que, já antes da guerra, ele repetia: "Os siberianos, os russos brancos, os homens da estepe, desfrutam hoje ter uma saúde extraordinária. E isso capacita-os a evoluir, e no futuro serão biologicamente superiores aos alemães". Nos últimos meses da guerra repetia, de modo drástico, essa observação.

Rosenberg vendeu centenas de milhares de exemplares de O mito do século XX, um volume de 700 páginas. Esse livro, ao aparecer, foi considerado publicamente a obra que definia a ideologia do partido. Mas, nas conversas à hora do chá, Hitler qualificava-o "um palavreado que ninguém pode compreender", escrito por  um báltico de mente estreita, que pensa de um modo espantosamente complicado". Ele se admirava de que tal livro pudesse ter  tido ao menos uma edição.

- É um retrocesso às idéias da Idade Média.

Mas não se sabe se Rosenberg tinha tido conhecimento  daquelas opiniões do Führer, feitas em um círculo íntimo.

Segundo Hitler, a civilização dos gregos era a expressão da perfeição máxima, em todos os planos. Em sua o quinhão, a forma grega de entender a vida, tal como se refletia, por exemplo, na arquitetura, teria sido "fresca e sadia". A fotografia de uma bela nadadora levou-o um dia às seguintes reflexões:

- Como se podem ver hoje corpos maravilhosos! Tivemos de esperar pelo nosso século para que a juventude se aproximasse de novo, mediante esportes, dos ideais helênicos. Nos séculos passados, não se deu a menor atenção ao corpo. Mas, nisso, a nossa época se diferencia dos demais períodos da civilização, transcorridos desde a Antiguidade.

Mas Hitler não queria praticar nenhum esporte. Nem me disse que tivesse praticado algum em sua mocidade.

Quando falava dos gregos, referia-se aos dórios. Naturalmente, dentro desse pensamento, admitia a tese, alimentada pelos cientistas daquele tempo, de que o ramo dórico, proveniente do norte, era de origem germânica. Por isso a cultura dórica não pertencia ao mundo mediterrâneo.  



Um dos seus temas preferidos era a paixão de Goering pela caça:

- Como é possível alguém se entusiasmar por uma coisa assim? Matar animais, quando necessário, incumbe ao magarefe. Mas gastar montões  de  dinheiro com isso? Compreendo a existência dos caçadores profissionais, para a eliminação dos animais doentes. Se, ao menos, nessa atividade houvesse algum perigo, como nas eras em que se caçavam feras empunhando lanças!... Mas hoje, quando um indivíduo, ainda que barrigudo, pode derribar, atacando-o que de longe?... A caça e as corridas de cavalo são os últimos restos de um mundo feudal, já desaparecido...

Também Hitler se divertia quando o embaixador Hewel, o homem de confiança de Ribbentrop, lhe contava, detalhadamente, o conteúdo das conversas telefônicas com ministro das Relações Exteriores. Dava-lhe até conselhos para tranquüilizar o seu chefe ou também confundi-lo. Havia ocasiões em que ele se colocava ao lado de Hewel. Este, tapando uma das extremidades do fone, repetia as palavras de Ribbentrop e Hitler sussurrava-lhe o que devia dizer o auxiliar de Ribbentrop. Em geral tratava-se de observações sarcásticas para aumentar a constante preocupação do desconfiado ministro das Relações Exteriores. Hitler sugeria que círculos incompetentes  poderiam influir em questões da política exterior, disso decorrendo desprestígio do ministro.

Depois de dramáticas negociações, Hitler era capaz de divertir-se à custa dos seus opositores. Uma vez, ele contou como, no dia 12 de fevereiro de 1938, fingindo-se encolerizado, fez o chanceler austríaco Shuschnigg se convencer da gravidade da situação do seu país, quando este lhe fez uma visita em  Obersaltzberg, obrigando-o assim, a se render. Muitas das suas reações, que pareciam histéricas, das quais muitos falaram, podem ser atribuídas a fingimentos dessa ordem. Precisamente, uma das características mais acentuadas em Hitler era o domínio de si mesmo. Naquela época, foram poucas as vezes em que se desmandou.

Lá para o ano de 1936, Schacht apresentou-se na sala de estar da resistência de montanha para expor a situação. Nós estávamos sentados no terraço contíguo, achando-se aberta a janela daquela sala. Hitler gritava para o seu ministro da Economia e em sua voz havia acentos de alta excitação. Schacht respondia àqueles gritos com voz firme e alta. O diálogo foi adquirindo maior privacidade, da parte de ambos, e terminou de maneira brusca. Hitler foi para o terraço, colérico, e externou considerações sobre o seu recalcitrante o ministro, que estava dificultando o rearmamento da Alemanha. Outra crise de cólera foi a suscitada em 1937, pelo Pastor Niemöller, que havia pronunciado outro sermão revolucionário em Dahlem. Mostraram-lhe também gravações das conversas telefônicas de Niemöller. Hitler, com voz estridente, ordenou que Nielemöller fosse internado em um campo de concentração, de onde não saiu mais, por haver manifestado sua recusa em desdizer-se.

Há outro caso, relacionado com a sua juventude. Em uma viagem de Budweis a Krems, feita em 1942, via-se no caminho um grande letreiro, que chamava a atenção para uma casa situada em uma aldeia chamada Spital, próxima de Weitra, na fronteira tcheca. Segundo indicava a placa, o Führer tinha morado naquela casa, quando menino, uma casa esplêndida. Falei isso a Hitler, que, imediatamente, perdeu as estribeiras. Chamou aos gritos Bormann, que veio consternado. Hitler falou-lhe com dureza, para lembrar-lhe que ele já ouvira diversas vezes que não devia mencionar aquela localidade, de modo algum. Apesar disso, aquele asno do chefe regional mandou colocar um letreiro ali. O cartaz tinha de ser retirado imediatamente. Não pude compreender o motivo daquela irritação, pois Hitler ficava satisfeito quando Bormann lhe falava da restauração de outros locais, que recordavam sua mocidade, em Linz, em Braunau... Sabe-se hoje da obscura origem de sua família, naquele rincão de um bosque austríaco.

De quando em quando fazia desenhos de uma torre das históricas fortificações de Linz:

- Este era o meu lugar favorito para brincadeiras... Como aluno eu era ruim, mas quando se tratava de pilhérias eu era o primeiro. Mais tarde, como recordação daquele tempo, mandarei transformar essa torre em um grande albergue para crianças.

Também falava, freqüentemente, das suas primeiras impressões políticas, quando rapaz. Quase todos os seus colegas em Linz, tinham a impressão de que a imigração dos tchecos para a Áustria alemã tinha que ser repelida. Isso lhe tinha dado, pela primeira vez, consciência do problema das nacionalidades. Ademais, em Viena, via surgir de maneira fulminante o perigo do judaísmo. Muitos operários com os quais ele convivia adotavam uma atitude duramente anti-semita. Mas, segundo suas próprias palavras, "não tinha as mesmas idéias dos operários no tocante à social-democracia, e jamais pertenceu a um sindicato. Isso acarretou as minhas primeiras dificuldades políticas".

Talvez tenha sido essa uma das razões pelas quais não guardava boa recordação de Viena, ao contrário do que ocorria quando falava do seu tempo em Munique, antes da guerra, mostrando-se então entusiasmado. E freqüentemente falava contente das casas que vendiam salsichas. Hitler exprimia seu respeito e estima ao bispo de Linz, quando ele era menino, o qual, vencendo resistências, conseguiu construir a catedral com dimensões invulgares. Como essa catedral ia ser maior do que a de Santo Estevão, em Viena, o bispo, segundo dizia Hitler, tivera dificuldades com o governo austríaco, que não desejava construções no país de obras maiores do que as existentes em Viena.

Hitler sentir entusiasmo pelo aspecto que, no decurso dos séculos, havia adquirido Budapeste, nas 2 margens do Danúbio. Ambicionava transformar Linz  em uma Budapeste alemã. Sobre o assunto, era de opinião que havia um equívoco na orientação da cidade de firma, pois alcançava o Rio somente por sua parte posterior. Na opinião de Hitler, os antigos planificadores não tinham sabido aproveitar o Rio, sob o ponto de vista o urbanístico.

Já antes da guerra, algumas vezes, Hitler dissera que se recolheria em Linz para terminar sua vida, na capacidade, afastado dos negócios do Estado, depois de alcançados os seus objetivos políticos. Não desempenharia mais nenhum cargo estatal, pois somente assim seu sucessor disporia da necessária autoridade. Não influenciaria seu substituto, de modo nenhum. E ele - Hitler -  logo seria esquecido. Toda a gente o abandonaria. Prosseguindo esses pensamentos, mostrou-se compadecido dele mesmo:

- Talvez me visite algum dos meus antigos colaboradores. Mas isso não é certo... Ninguém me acompanhará, exceto a senhorita Braun e meu cachorro. Estarei sozinho... Como virá alguém passar muito tempo em minha companhia? Ninguém se importará se estou vivo. Todos virão correndo em busca do meu sucessor. Talvez apareçam em minha casa no dia do meu aniversário.

Naturalmente, as pessoas presentes à tertúlia protestavam solenemente, afirmando que lhe continuariam sendo fiéis e estariam sempre ao seu lado. Quaisquer que fossem os motivos que induziram Hitler a pensar em uma prematura retirada da política, esses pareciam fundar-se, em tais momentos, em que a origem e a razão da sua autoridade era a sua posição forte, não a sua personalidade e a capacidade de sugestão.

A auréola na de Hitler, para os colaboradores, que não tinham trato direto com Hitler, era muito maior do que aquela vista pelos que participavam do círculo íntimo. Neste, não se falava dele em tom respeitoso. Era denominado "o chefe". Não se ouvia o clássico "Heil Hitler!" Todos se  cumprimentavam com um "bom dia". Até havia ironias, à custa de Hitler, que não se aborrecia com isso. Eva Braun, sem cerimônias, chamava a atenção de Hitler, na presença de todos, sobre a gravata que não combinava com o terno, e, algumas vezes, dizia que ela era a "rainha".

Um dia, quando estavam sentados em torno da grande mesa redonda, na casa de chá, Hitler começou a olhar-me fixamente. Em vez de baixar o meu, considerei que isso é uma provocação. Ninguém sabe que instintos primitivos provocam essa pugna, na qual os adversários miram-se, firmemente, nos olhos um do outro, até quando um deles baixa a vista. De qualquer modo, eu estava acostumado a sair vitorioso desses embates visuais. Mas, naquela ocasião, tive de usar de uma energia quase sobre-humana, que parecia infinda, para não ceder ao impulso cada vez mais acentuado de olhar em outra direção. Afinal, Hitler fechou os olhos, para logo depois dirigir-se à senhora sua vizinha.

Às vezes, eu perguntava a mim mesmo: "Que me falta para qualificar Hitler de meu amigo?" eu pertencia ao grupo dos que o rodeavam, estava em seu círculo íntimo como em minha própria casa e, além disso, era seu primeiro colaborador no seu campo favorito, a arquitetura.

Faltava tudo. Jamais conheci em minha existência alguém que tão raramente revelasse seus verdadeiros sentimentos. Seria, quando o fazia, voltava logo a fechar-se em si mesmo. Enquanto estive em Spandau, conversei com Hess sobre essa peculiaridade de Hitler. Segundo nossas experiências comuns, talvez tenham ocorrido momentos em que alguém tivesse conseguido aproximar-se mais dele. Mas isso implicava sempre uma desilusão. No caso de alguém que, embora cautelosamente, se deixasse iludir por um tom cordial nas palavras de Hitler, este, com uma expressão de repulsa, levantava logo um muro.

De qualquer modo, Hess era de opinião que havia uma exceção: Dietrich Eckart. Mas, afinal, concordamos que se tratava, mais do que de amizade, de uma veneração sentido pelo já importante personagem que, além de tudo, era tido em grande estima pelos meios anti-semitas. Depois da morte de Dietricht Eckart, em 1923, apenas 4 homens tratavam Hitler por "Du", como a um amigo: Esser, Christian Weber, Streicher e Roehm. Depois de 1933, Hitler aproveitou-se de uma ocasião favorável para fazer que o primeiro voltasse a tratá-lo por "senhor". Quanto ao segundo, foi evitando encontrar-se com ele. Dava um tratamento impessoal ao terceiro. E o quarto foi assassinado. Nem se revelara inteiramente humano nem simples em suas relações com Eva Braun. Entre ambos sempre houve a distância do chefe da nação para com uma rapariga modesta. Algumas vezes, dirigia-se à Eva Braun com uma expressão meio inconveniente, meio familiar, chamando-a Tschapperl. Este vocábulo, usado pelos camponeses bávaros, caracterizava a classe de relação que o unia à mulher.



Hitler deve ter tido clara consciência da aventura da sua vida, da alta aposta do seu jogo, quando, em novembro de 1936, em Obersaltzberg, se encontrou em uma entrevista com o Cardeal Faulhaber. Depois daquela conversa, Hitler e eu estivemos mal, sentados, junto ao balcão da sala de jantar. A noite crescia. Depois de estar muito tempo olhando para fora da janela, em silêncio disse:

- Há para mim duas possibilidades: ou levar adiante os meus planos, ou malograr. Se for bem-sucedido, eu me converterei em um dos maiores personagens da história. Se eu não conseguir êxito, serei condenado, desprezado, amaldiçoado.