Por Dentro do III Reich - 07 1975 - parte 2
Albert Speer
- Por Dentro do III Reich (07/34)
Capítulo
sete - Obersaltzberg
pp. 111-115
Da vida
social em Obersaltzberg só me ficou um vazio. Por sorte que, durante meus
primeiros anos de prisão, anotei alguns modismos, usuais nas conversas, e que
agora posso considerar autênticos.
Em muitas
das conversas, à sobremesa ou na hora do chá, falavam de modas, da criação de
cachorros, de teatro, de cinema, de operetas e suas estrelas, tudo isso entremeado de referências mesquinhas à vida
das famílias de outras pessoas. Hitler pouco se referia à questão judaica, aí
inimigos políticos internos, e muito menos à instalação de campos de
concentração. Isso se devia mais à trivialidade das conversas do que a uma
intenção predeterminada. Mas, por outro lado, Hitler divertia-se freqüentes
vezes à custa dos seus mais próximos
colaboradores. Não é por acaso que me ficaram gravadas estas observações da
memória, pois, no final de contas, tratava-se de pessoas acima de qualquer
crítica pública. No círculo íntimo de Hitler ninguém estava obrigado a guardar
silêncio. No caso das mulheres, ele dizia encarecer de sentido obrigarem-nas a
ficarem caladas. Pretendia causar alguma impressão, quando falava com desprezo
de alguém ou de muitos? Tratava-se de um menosprezo geral para que com pessoas
e acontecimentos?
Freqüentemente
Hitler comentavam do mito de Himmler com suas SS:
- Que
insensatez! E agora que afinal fomos tão longe, em uma época em que se deixou
para trás toda a classe de misticismo, vamos outra vez iniciar desde o começo.
Para isso, poderíamos ter ficado com a Igreja. Esta, pelo menos, tem tradição.
A idéia corajosa a de eu algum dia ser canonizado "santo das SS".
Veja o senhor! Eu me moveria na sepultura.
- Este
Himmler pronunciou um outro discurso, em que dá a Carlos Magno o qualificativo
de Carniceiro da Saxônia. Ao contrário da opinião de Himmler, a matança de um
grande número de saxões não foi um crime histórico. Carlos Magno agiu muito
acerto, subjugando Widukind, matando sem rodeios os saxões. Isso possibilitou a
formação do Reino dos Rrancos e a penetração da cultura do ocidente na Alemanha
de nosso tempo.
Himmler
mandou que se fizessem escavações pré-históricas de que participavam
cientistas.
- Por que
mostrar a todo mundo que não temos nenhum passado? Pelo visto, já não basta que
os romanos tivessem levantado suas grandes obras quando nossos antepassados
ainda viviam em choças de barro. Agora Himmler tem que fazer escavações, dessas
aldeias de casas de barro, para entusiasmar-se quando encontrar um caco de
argila, um machado de pedra. Assim, provaremos que ainda lutávamos com machados
de terra e estávamos de cócoras, em torno de tendas e fogueiras, ao ar livre,
quando a Grécia e Roma tinham chegado ao seu mais alto grau de civilização.
Para falar a verdade, nós tínhamos toda
a razão para silenciar sobre esse passado. Mas, em vez disso, Himmler propala-o
aos quatro ventos. Como os romanos de hoje não estão rindo desses
descobrimentos?
No âmbito do
seus colaboradores políticos, quando estavam em Berlim, Hitler manifestava-se
duramente contra a Igreja. No entanto, entregava um tom menos agressivo, na
presença de mulheres que, sendo oferecido um dos muitos exemplos de suas
cautelas em manifestar seus pensamentos de acordo com as pessoas que o ouviam.
Em outra
ocasião, naquele círculo, declarou:
- Não há
dúvida, a Igreja é necessária ao povo. É um elemento forte e conservador.
Falando
assim referia-se a um instrumento que estava ao seu lado:
- O Reibi - assim se denominava o primaz do
Reich, Ludwig Müller - teria de ser um personagem... mas considerando-se a
nomeação para essa função de um pequeno sacerdote castrense! De boa vontade eu
lhe daria o todo o meu apoio... poderia ser a Igreja do Estado, como acontece
na Inglaterra.
Mais uma
vez, em 1942, em uma conversa na hora do chá, em Obersaltzberg Hitler acentuou
que considerava imprescindível a Igreja na vida do Estado. Afirmou que seria
feliz se um dia encontrasse um homem da Igreja bastante habilitado a dirigi-la,
ou, se possível, não uma porém as duas. Enquanto falava assim, condenava a luta
contra a Igreja como um atentado ao futuro de um povo. Em sua opinião, era
impossível substituir a Igreja por "uma ideologia de partido".
Indiscutivelmente, depois de um largo período, a Igreja saberia adaptar-se aos
fins políticos do nacional-socialismo. Deus tem sabedoria e assim solucionaria
os problemas políticos no decurso da história. Uma nova religião, apoiada em um
partido, nada mais seria do que um retrocesso ao misticismo medieval. Isso era
demonstrado pelo mito das SS pelo incompreensível livro de Rosenberg O mito do século XX.
Se em um
daqueles monólogos Hitler tivesse manifestado um pensamento de oposição à Igreja,
Bormann com certeza teria tirado de um bolso uma folha de papel em branco para
anotar as palavras do Führer, como era do seu hábito. E ele o fazia com mais
interesse quando se tratava de opiniões hoje depreciativas à Igreja naquela
ocasião, eu supus que ele tivesse fazendo uma biografia de Hitler.
Quando, mais
ou menos em 1937, Hitler soube que muitos partidários seus se tinham afastado
da Igreja, por instigação do partido e das SS, pois a Igreja resistia,
obstinadamente, às diretrizes de Hitler, este, por oportunismo, ordenou que
seus colaboradores mais importantes continuassem membros da Igreja,
particularmente Goering e Goebells. Também ele continuaria na Igreja Católica,
embora não tivesse nenhum vínculo espiritual com ela. E assim continuou até o
suicídio.
A concepção de Hitler e de sua
Igreja estatal poderia ser imaginada pela narrativa, freqüentemente repetida,
de uma delegação de árabes nobres: segundo teriam explicado os visitantes, os
maometados foram derrotados na Batalha
de Poitiers e, quando pretenderam invadir a Europa através da França. Se
os árabes tivessem ganho a batalha, o mundo seria muçulmano. De fato, teria
imposto aos povos germânicos uma religião que, pela sua doutrina - propagação
da fé pela espada e submissão dos povos a essa fé -, estaria de completo acordo
com o caráter dos germanos. Por causa da inferioridade racial, depois de anos,
os conquistadores não teriam conseguido impor-se aos habitantes dessa área
geográfica, mais rigorosos, mais acostumados à áspera natureza do solo. No
final, não teriam sido os árabes, mas os germanos maometanizados, que estariam no governo desse império mundial
dinâmico.
Hitler
costumava terminar naquela argumentação com a seguinte observação:
- Temos,
precisamente, a desgraça de que a nossa religião não nos convém. Por que não
temos a religião dos japoneses, cuja aspiração máxima está no sacrifício pela Pátria?
Para nós a religião maometana teria sido
melhor do que o Cristianismo, uma religião frouxa e paciente.
Considere-se
que, já antes da guerra, ele repetia: "Os siberianos, os russos brancos,
os homens da estepe, desfrutam hoje ter uma saúde extraordinária. E isso
capacita-os a evoluir, e no futuro serão biologicamente superiores aos
alemães". Nos últimos meses da guerra repetia, de modo drástico, essa
observação.
Rosenberg
vendeu centenas de milhares de exemplares de O mito do século XX, um volume de 700 páginas. Esse livro, ao
aparecer, foi considerado publicamente a obra que definia a ideologia do
partido. Mas, nas conversas à hora do chá, Hitler qualificava-o "um
palavreado que ninguém pode compreender", escrito por um báltico de mente estreita, que pensa de um
modo espantosamente complicado". Ele se admirava de que tal livro pudesse
ter tido ao menos uma edição.
- É um
retrocesso às idéias da Idade Média.
Mas não se
sabe se Rosenberg tinha tido conhecimento
daquelas opiniões do Führer, feitas em um círculo íntimo.
Segundo Hitler,
a civilização dos gregos era a expressão da perfeição máxima, em todos os
planos. Em sua o quinhão, a forma grega de entender a vida, tal como se
refletia, por exemplo, na arquitetura, teria sido "fresca e sadia". A
fotografia de uma bela nadadora levou-o um dia às seguintes reflexões:
- Como se
podem ver hoje corpos maravilhosos! Tivemos de esperar pelo nosso século para
que a juventude se aproximasse de novo, mediante esportes, dos ideais helênicos.
Nos séculos passados, não se deu a menor atenção ao corpo. Mas, nisso, a nossa
época se diferencia dos demais períodos da civilização, transcorridos desde a
Antiguidade.
Mas Hitler
não queria praticar nenhum esporte. Nem me disse que tivesse praticado algum em
sua mocidade.
Quando
falava dos gregos, referia-se aos dórios. Naturalmente, dentro desse
pensamento, admitia a tese, alimentada pelos cientistas daquele tempo, de que o
ramo dórico, proveniente do norte, era de origem germânica. Por isso a cultura
dórica não pertencia ao mundo mediterrâneo.
Um dos seus
temas preferidos era a paixão de Goering pela caça:
- Como é
possível alguém se entusiasmar por uma coisa assim? Matar animais, quando
necessário, incumbe ao magarefe. Mas gastar montões de
dinheiro com isso? Compreendo a existência dos caçadores profissionais,
para a eliminação dos animais doentes. Se, ao menos, nessa atividade houvesse
algum perigo, como nas eras em que se caçavam feras empunhando lanças!... Mas
hoje, quando um indivíduo, ainda que barrigudo, pode derribar, atacando-o que
de longe?... A caça e as corridas de cavalo são os últimos restos de um mundo
feudal, já desaparecido...
Também Hitler
se divertia quando o embaixador Hewel, o homem de confiança de Ribbentrop, lhe
contava, detalhadamente, o conteúdo das conversas telefônicas com ministro das
Relações Exteriores. Dava-lhe até conselhos para tranquüilizar o seu chefe ou
também confundi-lo. Havia ocasiões em que ele se colocava ao lado de Hewel.
Este, tapando uma das extremidades do fone, repetia as palavras de Ribbentrop e
Hitler sussurrava-lhe o que devia dizer o auxiliar de Ribbentrop. Em geral
tratava-se de observações sarcásticas para aumentar a constante preocupação do
desconfiado ministro das Relações Exteriores. Hitler sugeria que círculos
incompetentes poderiam influir em
questões da política exterior, disso decorrendo desprestígio do ministro.
Depois de
dramáticas negociações, Hitler era capaz de divertir-se à custa dos seus
opositores. Uma vez, ele contou como, no dia 12 de fevereiro de 1938,
fingindo-se encolerizado, fez o chanceler austríaco Shuschnigg se convencer da
gravidade da situação do seu país, quando este lhe fez uma visita em Obersaltzberg, obrigando-o assim, a se
render. Muitas das suas reações, que pareciam histéricas, das quais muitos
falaram, podem ser atribuídas a fingimentos dessa ordem. Precisamente, uma das
características mais acentuadas em Hitler era o domínio de si mesmo. Naquela
época, foram poucas as vezes em que se desmandou.
Lá para o
ano de 1936, Schacht apresentou-se na sala de estar da resistência de montanha
para expor a situação. Nós estávamos sentados no terraço contíguo, achando-se
aberta a janela daquela sala. Hitler gritava para o seu ministro da Economia e
em sua voz havia acentos de alta excitação. Schacht respondia àqueles gritos
com voz firme e alta. O diálogo foi adquirindo maior privacidade, da parte de
ambos, e terminou de maneira brusca. Hitler foi para o terraço, colérico, e
externou considerações sobre o seu recalcitrante o ministro, que estava
dificultando o rearmamento da Alemanha. Outra crise de cólera foi a suscitada
em 1937, pelo Pastor Niemöller, que havia pronunciado outro sermão
revolucionário em Dahlem. Mostraram-lhe também gravações das conversas telefônicas
de Niemöller. Hitler, com voz estridente, ordenou que Nielemöller fosse
internado em um campo de concentração, de onde não saiu mais, por haver
manifestado sua recusa em desdizer-se.
Há outro
caso, relacionado com a sua juventude. Em uma viagem de Budweis a Krems, feita
em 1942, via-se no caminho um grande letreiro, que chamava a atenção para uma
casa situada em uma aldeia chamada Spital, próxima de Weitra, na fronteira
tcheca. Segundo indicava a placa, o Führer tinha morado naquela casa, quando
menino, uma casa esplêndida. Falei isso a Hitler, que, imediatamente, perdeu as
estribeiras. Chamou aos gritos Bormann, que veio consternado. Hitler falou-lhe
com dureza, para lembrar-lhe que ele já ouvira diversas vezes que não devia
mencionar aquela localidade, de modo algum. Apesar disso, aquele asno do chefe
regional mandou colocar um letreiro ali. O cartaz tinha de ser retirado
imediatamente. Não pude compreender o motivo daquela irritação, pois Hitler
ficava satisfeito quando Bormann lhe falava da restauração de outros locais,
que recordavam sua mocidade, em Linz, em Braunau... Sabe-se hoje da obscura
origem de sua família, naquele rincão de um bosque austríaco.
De quando em
quando fazia desenhos de uma torre das históricas fortificações de Linz:
- Este era o
meu lugar favorito para brincadeiras... Como aluno eu era ruim, mas quando se
tratava de pilhérias eu era o primeiro. Mais tarde, como recordação daquele
tempo, mandarei transformar essa torre em um grande albergue para crianças.
Também
falava, freqüentemente, das suas primeiras impressões políticas, quando rapaz.
Quase todos os seus colegas em Linz, tinham a impressão de que a imigração dos
tchecos para a Áustria alemã tinha que ser repelida. Isso lhe tinha dado, pela
primeira vez, consciência do problema das nacionalidades. Ademais, em Viena,
via surgir de maneira fulminante o perigo do judaísmo. Muitos operários com os
quais ele convivia adotavam uma atitude duramente anti-semita. Mas, segundo
suas próprias palavras, "não tinha as mesmas idéias dos operários no
tocante à social-democracia, e jamais pertenceu a um sindicato. Isso acarretou
as minhas primeiras dificuldades políticas".
Talvez tenha
sido essa uma das razões pelas quais não guardava boa recordação de Viena, ao
contrário do que ocorria quando falava do seu tempo em Munique, antes da
guerra, mostrando-se então entusiasmado. E freqüentemente falava contente das
casas que vendiam salsichas. Hitler exprimia seu respeito e estima ao bispo de
Linz, quando ele era menino, o qual, vencendo resistências, conseguiu construir
a catedral com dimensões invulgares. Como essa catedral ia ser maior do que a
de Santo Estevão, em Viena, o bispo, segundo dizia Hitler, tivera dificuldades
com o governo austríaco, que não desejava construções no país de obras maiores
do que as existentes em Viena.
Hitler
sentir entusiasmo pelo aspecto que, no decurso dos séculos, havia adquirido
Budapeste, nas 2 margens do Danúbio. Ambicionava transformar Linz em uma Budapeste alemã. Sobre o assunto, era
de opinião que havia um equívoco na orientação da cidade de firma, pois
alcançava o Rio somente por sua parte posterior. Na opinião de Hitler, os
antigos planificadores não tinham sabido aproveitar o Rio, sob o ponto de vista
o urbanístico.
Já antes da
guerra, algumas vezes, Hitler dissera que se recolheria em Linz para terminar
sua vida, na capacidade, afastado dos negócios do Estado, depois de alcançados
os seus objetivos políticos. Não desempenharia mais nenhum cargo estatal, pois
somente assim seu sucessor disporia da necessária autoridade. Não influenciaria
seu substituto, de modo nenhum. E ele - Hitler - logo seria esquecido. Toda a gente o
abandonaria. Prosseguindo esses pensamentos, mostrou-se compadecido dele mesmo:
- Talvez me
visite algum dos meus antigos colaboradores. Mas isso não é certo... Ninguém me
acompanhará, exceto a senhorita Braun e meu cachorro. Estarei sozinho... Como
virá alguém passar muito tempo em minha companhia? Ninguém se importará se
estou vivo. Todos virão correndo em busca do meu sucessor. Talvez apareçam em
minha casa no dia do meu aniversário.
Naturalmente,
as pessoas presentes à tertúlia protestavam solenemente, afirmando que lhe
continuariam sendo fiéis e estariam sempre ao seu lado. Quaisquer que fossem os
motivos que induziram Hitler a pensar em uma prematura retirada da política,
esses pareciam fundar-se, em tais momentos, em que a origem e a razão da sua
autoridade era a sua posição forte, não a sua personalidade e a capacidade de
sugestão.
A auréola na
de Hitler, para os colaboradores, que não tinham trato direto com Hitler, era
muito maior do que aquela vista pelos que participavam do círculo íntimo.
Neste, não se falava dele em tom respeitoso. Era denominado "o chefe".
Não se ouvia o clássico "Heil Hitler!" Todos se cumprimentavam com um "bom dia".
Até havia ironias, à custa de Hitler, que não se aborrecia com isso. Eva Braun,
sem cerimônias, chamava a atenção de Hitler, na presença de todos, sobre a
gravata que não combinava com o terno, e, algumas vezes, dizia que ela era a
"rainha".
Um dia,
quando estavam sentados em torno da grande mesa redonda, na casa de chá, Hitler
começou a olhar-me fixamente. Em vez de baixar o meu, considerei que isso é uma
provocação. Ninguém sabe que instintos primitivos provocam essa pugna, na qual
os adversários miram-se, firmemente, nos olhos um do outro, até quando um deles
baixa a vista. De qualquer modo, eu estava acostumado a sair vitorioso desses
embates visuais. Mas, naquela ocasião, tive de usar de uma energia quase
sobre-humana, que parecia infinda, para não ceder ao impulso cada vez mais
acentuado de olhar em outra direção. Afinal, Hitler fechou os olhos, para logo
depois dirigir-se à senhora sua vizinha.
Às vezes, eu
perguntava a mim mesmo: "Que me falta para qualificar Hitler de meu
amigo?" eu pertencia ao grupo dos que o rodeavam, estava em seu círculo
íntimo como em minha própria casa e, além disso, era seu primeiro colaborador
no seu campo favorito, a arquitetura.
Faltava
tudo. Jamais conheci em minha existência alguém que tão raramente revelasse
seus verdadeiros sentimentos. Seria, quando o fazia, voltava logo a fechar-se
em si mesmo. Enquanto estive em Spandau, conversei com Hess sobre essa
peculiaridade de Hitler. Segundo nossas experiências comuns, talvez tenham
ocorrido momentos em que alguém tivesse conseguido aproximar-se mais dele. Mas
isso implicava sempre uma desilusão. No caso de alguém que, embora
cautelosamente, se deixasse iludir por um tom cordial nas palavras de Hitler,
este, com uma expressão de repulsa, levantava logo um muro.
De qualquer
modo, Hess era de opinião que havia uma exceção: Dietrich Eckart. Mas, afinal,
concordamos que se tratava, mais do que de amizade, de uma veneração sentido
pelo já importante personagem que, além de tudo, era tido em grande estima
pelos meios anti-semitas. Depois da morte de Dietricht Eckart, em 1923, apenas
4 homens tratavam Hitler por "Du",
como a um amigo: Esser, Christian Weber, Streicher e Roehm. Depois de 1933, Hitler
aproveitou-se de uma ocasião favorável para fazer que o primeiro voltasse a
tratá-lo por "senhor". Quanto ao segundo, foi evitando encontrar-se
com ele. Dava um tratamento impessoal ao terceiro. E o quarto foi assassinado.
Nem se revelara inteiramente humano nem simples em suas relações com Eva Braun.
Entre ambos sempre houve a distância do chefe da nação para com uma rapariga
modesta. Algumas vezes, dirigia-se à Eva Braun com uma expressão meio
inconveniente, meio familiar, chamando-a Tschapperl. Este vocábulo, usado pelos
camponeses bávaros, caracterizava a classe de relação que o unia à mulher.
Hitler deve
ter tido clara consciência da aventura da sua vida, da alta aposta do seu jogo,
quando, em novembro de 1936, em Obersaltzberg, se encontrou em uma entrevista
com o Cardeal Faulhaber. Depois daquela conversa, Hitler e eu estivemos mal,
sentados, junto ao balcão da sala de jantar. A noite crescia. Depois de estar
muito tempo olhando para fora da janela, em silêncio disse:
- Há para
mim duas possibilidades: ou levar adiante os meus planos, ou malograr. Se for
bem-sucedido, eu me converterei em um dos maiores personagens da história. Se
eu não conseguir êxito, serei condenado, desprezado, amaldiçoado.