Albert Speer - Por dentro do III Reich (05) - parte II
Capítulo cinco -
Megalomania edificada (parte 2)
Durante as obras de
Nuremberg, havia na minha cabeça uma síntese entre o classicismo de Troost e a
simplicidade de Tessenov. Não a qualificava propriamente de neoclássica, pois
eu supunha tê-la derivado do estilo dórico. Eu me iludia a mim mesmo, ao
esquecer que essas obras já tinham funcionado como bastidor teatral monumental,
tendo sido assim durante a Revolução Francesa, no Campo de Marte em Paris, em
outras circunstâncias menores. As características do classicismo e a
simplicidade mal podiam se reconciliar com as dimensões gigantescas de que me
utilizem em Nuremberg. Apesar disso, ainda hoje, os meus desenhos de Nuremberg
são os que mais me agradam, ao contrário do que muitos outros que fiz mais
adiante para Hitler e que eram muito mais pretensiosos.
E a primeira viagem ao
estrangeiro ocorreu em maio de 1935. Foi motivada por minha preferência pelo
mundo dórico. Não fui à Itália contemplar os palácios do Renascimento e as
colossais obras romanas, embora lá tivesse podido encontrar modelos para as
minhas construções. Dirigi-me à Grécia, o que me parecia lógico naquele tempo.
Minha mulher e eu procurávamos na Grécia testemunhos do mundo dórico e ficamos
profundamente impressionados - o que nunca mais se apagou em minha memória -
com o Estádio de Atenas reconstruído. Quando, dois anos depois, tive de
desenhar um projeto de estádio, adotei a forma de ferradura do estádio
ateniense.
Pareceu-me descobrir em
Delfos a rapidez com que as riquezas adquiridas das colônias jônio-asiáticas
contribuíram para a decadência da pureza das criações artísticas gregas.
Demonstra isso como é sensível uma elevada consciência da arte e como bastam
insignificantes forças para alterar a peça e tornar irreconhecível a
representação um ideal? Eu refletia sobre tais extremos, sem preocupar-me
comigo. Meus próprios trabalhos pareciam evitar que eu caísse nesses perigos.
Depois de nosso regresso, em
junho de 1935, terminou-se a construção de minha casa em Berlim-Schlachtensee.
Não pude construir uma residência de grandes dimensões. Custou setenta mil
marcos, e para eu levantar essa quantia meu pai teve de fazer uma hipoteca de
trinta mil. Meus recursos financeiros eram escassos, apesar de trabalhar para o
Estado e o partido como arquiteto profissional. Mas a minha desinteressada emoção,
em uma ambiência idealista, característica da época, induzia-me à renúncia dos
meus honorários em todas as minhas construções.
Essa atitude provocou a
incompreensão de outras pessoas. Um dia, em Berlim, Goering, que estava
bem-humorado - coisa inesquecível -, disse-me:
- Bem, Senhor Speer, agora
tem muitas coisas para fazer e vai também ganhar um montão de dinheiro.
Minha resposta negativa
provocou nele um olhar de incompreensão:
- Mas... Que diz? um
arquiteto tão ocupado como o senhor? Pois eu supunha que fizesse uns cem mil
marcos por ano. Os seus ideais são uma insensatez absoluta. O senhor tem de
ganhar dinheiro!
Excetuando-se as obras
realizadas em Nuremberg, pelas quais eu recebia mil marcos mensais, depois agir
no sentido de me pagarem os honorários devidos a todo arquiteto. Mas não foi só
por isso que tive a precaução de não perder minha independência profissional.
Eu sabia que Hitler confiava mais nos arquitetos que não eram funcionários. A
preferência de Hitler pelos particulares, em vez de funcionários públicos,
exprimir-se também pelo seguinte: no final de minhas atividades de arquiteto,
eu possuía um milhão e quinhentos mil marcos, aproximadamente, mas o Reich
devia-me ainda outro milhão, que não cobrei nunca.
Minha família vivia feliz
naquela casa. Bem quisera afirmar que eu também participava daquela dita
familiar, tal como sonhara, junto de minha mulher. Mas eu chegava em casa
fatigado, já alta noite. Os meninos já estavam dormindo. E eu, ao juntar-me á
minha mulher, não abria os lábios, tão cansado me sentia. Essa situação não se
alterou durante anos. Hoje, decorridos já tantos anos, quando relembro aquela
maneira de viver, vejo que se dava a mesma coisa com os maiorais do partido,
que se descuidavam da vida familiar para seguir um pomposo estilo de vida.
Transformavam-se em estátuas imóveis, pela sua atividade oficial; eu, ao
contrário, pelo meu excessivo trabalho.
No outono de 1934, Otto
Meissner, que, depois de Ebert e Hindenburg, tinha encontrado em Hitler seu
terceiro chefe, chamou-me ao telefone; eu teria de ir com ele a Weimar no dia
seguinte, a fim de acompanharmos Hitler a Nuremberg. Estive desenhando, até à madrugada,
projetos de que me ocupara desde algum tempo. Tinham de ser construídas outras
grandes obras para os congressos do partido, um campo para as revistas
militares, um grande estádio, um salão para os discursos culturais de Hitler e
concertos sinfônicos. Por que não incorporar tudo isso ao já existente e formar
um grande centro? Até então eu não me atreveria a tomar a iniciativa em
questões semelhantes, pois a iniciativa era coisa que Hitler reservava para si
mesmo. Sendo assim, executei aqueles desenhos a título precário.
Estando em Weimar, Hitler
mostrou-me o projeto de um "foro do partido", obra do professor
Schultze-Naumburg.
- Parece a praça principal,
extraordinariamente grande, de uma cidade provinciana - foi a opinião dele. -
Nada típico, não se diferencia das épocas anteriores. Se construirmos um foro
para o partido, terá depois de dar a impressão de que foi erguido em nosso
tempo, segundo nosso estilo, como por exemplo, a Koenigsplatz de Munique.
Schutze-Naumburg, uma
autoridade no Kampfbund Deutscher Kultur, não teve possibilidade de
justificativa. Não foi mais convidado. Hitler não teve consideração para com a
fama daquele homem e promoveu novo concurso entre os diversos arquitetos de sua
escolha.
Depois fomos à casa de
Nietzsche, onde nos esperava sua irmã, a senhora Förster-Nietzsche. Era
evidente que aquela mulher de tendências excêntricas não podia entender-se com Hitler.
O ambiente tornou-se tenso e a conversação derivou para a superficialidade. No
momento, o assunto principal resolveu-se com satisfação para todos. Hítler
encarregou-se de financiar a construção de um anexo à velha casa de Nietzsche. A Sra. Föster-Nietzsche concordou
em que o arquiteto Schultze-Naumburg elaborar esse os planos respectivos.
- Ele se adaptará melhor ao
aspecto da velha casa - comentou
Hitler, visivelmente contente por poder
proporcionar a aquele arquiteto uma pequena compensação.
Na manhã seguinte,
continuamos nossa viagem de automóvel rumo à
Nuremberg, embora, naquele tempo, Hitler
preferisse o trem por motivos que vim a saber naquele mesmo dia. Como
sempre, ele ia sentado ao lado do motorista, em um Mercedes conversível, de
sete litros, de cor azul-escura. Eu havia sentado atrás dele, ao lado do
criado, que, se fosse necessário, podia tirar de uma bolsa mapas de estradas,
guloseimas, pastilhas. No assento traseiro, sentavam-se ou ajudante-de-ordens
Brückner e o chefe de imprensa, doutor Dietrich. Em um carro de escolta, do
mesmo tamanho e da mesma cor que o Mercedes, viajavam cinco homens vigorosos da
seção de escolta e o médico particular, o doutor Brandt.
Mal nós chegamos ao outro
lado do bosque de Turíngia, começaram os embaraços. Estávamos em uma zona muito
povoada. Ao passarmos por um povoado, fomos reconhecidos, mas conseguimos nos
afastar antes que a população se manifestasse.
- Preste atenção - observou Hitler.
- Quando chegarmos a outra localidade já não será tão fácil nos
desvencilharmos. Com toda a certeza, o pessoal daqui já avisou por telefone com
os habitantes da outra povoação.
Realmente, quando chegamos as
ruas estavam cheias de cidadãos e jubilosos. O agente policial fazia o possível
para cumprir o seu dever, mas o automóvel só podia rodar muito lentamente. Mal
havíamos conseguido abrir caminho, quando alguns entusiastas fecharam a
passagem de nível, na estrada, para Hitler ser detido e assim receber os
cumprimentos daquela gente. Daquela forma, era quase impossível continuarmos a
viagem. Chegando a hora do almoço, desviamo-nos para uma pequena pousada em
Hildburgshausen, onde anos antes Hitler tinha obtido nomeação de um comissário
dos gendarmes, para conseguir a nacionalidade alemã, fato que ele nunca
mencionou. Os donos e empregados estavam alvoroçados. Custou ao
ajudante-de-ordens pedir comida: espaguete com ovos.
Estivemos esperando muito
tempo, e, finalmente, o ajudante-de-ordens foi dar uma vista de olhos na cozinha,
voltando para dizer:
- As mulheres estão
excitadas, ao ponto de não saberem se há espaguetes ou não.
Enquanto isso, do lado de
fora tinham se reunido milhares de pessoas que aos gritos chamavam por Hitler.
- Quem nos dera já
estivéssemos longe daqui! - disse o Führer.
Lentamente e sob uma chuva de
flores, chegamos afinal à porta da cidade, em estilo medieval. Moços
fecharam-na diante de nós, enquanto os meninos subiam aos pára-lamas. Hitler
teve de distribuir autógrafos. Então, vindo, abriram a porta, sendo nisso
auxiliados por Hitler.
No campo, em toda parte, os
camponeses detinham-se diante de nós, enquanto as mulheres acenavam. Era uma
viagem triunfal. Enquanto o automóvel rodava, Hitler, recostando-se no assento,
voltou-se para mim, dizendo:
- Até agora, só um alemão foi
recebido assim, antes de mim: Lutero. Quando ele percorreu o país, toda a gente
acudia em massa para vê-lo e alojá-lo, como estão fazendo hoje comigo.
Essa grande popularidade era perfeitamente
compreensível. O povo atribuía unicamente a Hitler os êxitos obtidos no terreno
econômico e na política exterior. Viam nele, cada vez mais, o homem capaz de
realizar a aspiração, profundamente enraizada, de uma Alemanha poderosa, segura
de si mesma e unida. Os desconfiados eram apenas uma minoria. Quem, uma vez ou
outra, sentisse dúvidas, estas seriam desfeitas, quando se pensasse nos êxitos
e no respeito que usufruía o regime em países estrangeiros.
Durante aquela embriaguez
tributada pela gente do campo, em face da qual eu me sentia também fascinado,
em um de nossos carros havia um ambiente intranquilo provocado por Schreck, o
turista que estava há muitos anos a serviço de Hitler. Eu o ouvia trechos da
conversa: "estão descontentes por", "a gente do partido
envaideceu-se", "orgulhosos, esquecidos da sua origem". Depois
da morte prematura, no gabinete particular de Hitler, em um Obersaltzberg,
estavam pendurados juntos com quadro a óleo de Schreck e uma pintura da mãe de Hitler.
Mas não havia nenhuma fotografia do pai.
Pouco antes de chegar a
Bayeruth, Hitler entrou sozinho em um pequeno Mercedes, fechado, conduzido por
seu fotógrafo particular Hoffmann. Aquele carro, sem ser reconhecido, chegou à
quinta Wahnfried, onde o esperava a senhora Winifred Wagner. Nós nos dirigíamos
ao balneário de Berneck, nas proximidades, onde Hitler costumava passar a
noite, quando viajava de Munique a Berlim em automóvel. Em 8 horas, tínhamos
percorrido somente 210 km.
Quando eu soube que Hitler
sairia na casa de Wahnfried já tarde da noite, senti-me levemente confuso. Na
manhã seguinte, a viagem deveria prosseguir, rumo a Nuremberg. Eram muito
possível que Hitler resolvesse lá o programa das obras, de acordo com os
desejos da administração municipal, que tratava dos seus próprios interesses.
Se a administração municipal conseguisse impor-se, não haveria nenhuma
possibilidade de meu projeto ser tomado em consideração, porquanto muito
desagradava a Hitler voltar atrás em sua decisão. Naquela noite, falei somente
com Schreck, a quem expliquei meu projeto para os terrenos do partido. Ele
prometeu-me falar a Hitler sobre o assunto, durante a viagem, e apresentar-lhe
os desenhos, no caso de sua reação ser positiva.
Na manhã seguinte, pouco
antes de começar a viagem, fui chamado ao gabinete de Hitler:
- Estou de acordo com o seu
projeto. Hoje mesmo falaremos a respeito com o Prefeito Liebel.
Dois anos mais tarde, Hitler
dirigia-se ao prefeito para falar-lhe diretamente das suas idéias.
- Aqui está o projeto para os
terrenos do partido que queremos que se faça assim.
Mas, em 1935, não se sentia
ainda tão autoritário; necessitou de uma hora de explicações preliminares,
antes de abrir sobre a mesa o meu desenho. Desde logo, o prefeito achou
extraordinária a minha idéia, pois sendo um antigo camarada do partido estava
habituado a concordar com a opinião dos chefes.
Depois dos elogios ao meu
plano, Hitler iniciou uma sondagem no ambiente, pois o meu projeto que
implicava a mudança do jardim zoológico.
- Podemos esperar o
consentimento dos habitantes da cidade? Sei que estão muito afeiçoados ao
jardim, e, certamente, teremos de cuidar a instalação de um novo, sem dúvida
mais bonito.
O prefeito, que era também um
bom defensor dos interesses da sua cidade, esclareceu:
- Teremos que convocar os
acionistas. Talvez tentar comprar-lhes as ações.
Hitler esteve de acordo com
tudo. Na rua, Liebel, esfregando as mãos, disse a um dos seus colegas da
administração:
- Por que o Führer esteve tanto
tempo tentando convencer-me? Naturalmente, o atual jardim zoológico será dele e
nós teremos um novo. O velho já não tinha valor. Agora, vamos ter o mais belo
jardim zoológico do mundo. E, além disso, receberemos dinheiro.
Dessa forma, os habitantes de
Nuremberg obtiveram o seu novo zoológico. Foi a única obra realizada, em todo o
projeto aprovado, naquele tempo.
No mesmo dia, fomos de trem
para Munique. O ajudante-de-ordens, Brückner, chamou-me depois ao telefone:
- O diabo leve o senhor e o
seu projeto! O senhor não poderia ter esperado? O Führer não pregou os olhos,
durante a noite inteira, tal a sua excitação. Na próxima vez, o senhor faça-me
o favor de falar antes comigo!
Para a realização daquele
projeto, foi criada uma organização denominada Associação para Tratar do
Aproveitamento dos Terrenos do Partido em Nuremberg, em carregando-se do
financiamento, muito contra a vontade, o ministro da Fazenda do Reich. Hitler
nomeou, para a presidência, Kerrl, ministro dos Cultos do Reich, e seu suplente
Bormann, que assim obteve pela primeira vez, á margem da chancelaria do
partido, um cargo oficial de importância.
Dois anos depois de ter sido
aprovado por Hitler, meu projeto para os terreno do partido foi exposto em
maquete, na Exposição Internacional de Paris de 1937, e distinguido com o Grand
Prix. No extremo sul da instalação completa, estava o Campo de Marte. Esse
nome, além de referir-se ao deus da guerra, tinha por finalidade também cortar
um mês em que Hitler restabelecera o serviço militar obrigatório. Naqueles
terrenos extensos, a Wermacht realizaria exércitos de combate simulado, em uma
superfície e mil e cinqüenta por setecentos metros. Tinham-se planejado
tribunas de catorze metros de altura, que rodeiavam todo o terreno, com capacidade
para cento e sessenta mil espectadores. Vinte e duas torres de mais de quarenta
metros de altura dariam uma distribuição simétrica ás tribunas, uma das quais
seria a de honra, encimada por uma estátua de mulher. Ao norte, exatamente na
direção do antigo palácio dos Hohenzollern, via-se ao longe o Campo de Marte,
com uma avenida de dois quilômetros de comprimento por oitenta metros de
largura. Tinha-se previsto que a Wehrmacht desfilaria diante de Hitler, em formações
com cinquenta metros de largura. Essa avenida, terminada antes da guerra, foi
revestida de grossas lajes de granito, bastante fortes para resistirem ao peso
dos tanques. O chão tinha sido raspado a fim de que os soldados pudessem pensar
com firmeza, durante os desfiles. À direita levantava-se uma construção com
escadas, na qual Hitler, rodeado dos generais, presidiria ao desfile. Do outro
lado, á frente, estava uma galeria, sustentada por pilares, onde se colocariam
as bandeiras dos regimentos.
Essa galeria de pilares, com dezoito
metros de altura somente, serviria de medida comparativa para o "grande
estádio" que se levantaria por trás, para o qual Hitler estabelecera
capacidade de quatrocentos mil espectadores.
Calculamos que o Estádio de
Nuremberg custaria de duzentos a duzentos e cinqüenta milhões de marcos, ou
seja, cerca de um bilhão de marcos de agora, segundo os preços atuais da
construção. Hitler não fez nenhum reparo:
- É menos dinheiro do que o do custo dos
couraçados do tipo Bismarck. Um couraçado
desses pode ser destruído rapidamente; e, quando não, de qualquer maneira,
depois de dez anos, será reduzido a ferro-velho. Mas esta obra durará séculos.
Evite responder ao ministro da Fazenda, quando ele lhe perguntar pelo preço.
Diga-lhe que ainda não se tem experiência de projetos dessa grandeza.
Encomendou-se granito no
valor de alguns milhões de marcos, vermelho-claro para a parte externa e mais
claro para a tribuna dos espectadores. No local da obra foi aberto um fojo
gigantesco para depósito de cimento, que se transformou num pitoresco lago,
durante a guerra, e fazia presumir a gigantesca grandeza da construção.
Mais ao norte do estádio, a
avenida para os desfiles passava por cima de uma superfície líquida, na qual se
refletiam as obras, seguindo-se-lhe, para terminar, uma praça à direita da qual
se encontraria a Sala dos Congressos, ainda existente hoje, ao passo que, do
lado esquerdo, estaria fechada por uma "sala cultural", a qual seria
expressamente construída para Hitler dispor de um local adequado para os seus
discursos culturais.
Excetuando-se a Sala dos
Congressos, já desenhada em 1933 pelo arquiteto Ludwig Ruff, Hitler
designada-me arquiteto de todas as obras levantadas nos terrenos do partido.
Deixou-me as mãos livres, quanto a planos de realizações, desde então, todos os
anos procedendo à colocação de uma pedra fundamental. Essas pedras, logo depois
da cerimônia, eram levadas ao depósito municipal, para depois serem de novo
levadas ao seu lugar, quando a obra estivesse bastante adiantada. Quando se
colocou a primeira pedra do estádio, no dia 9 de setembro de 1937, Hitler
apertou-me a mão, cerimoniosamente, diante de todos os hierarcas do partido,
dizendo-me:
- Este é o maior dia da sua
vida.
Talvez eu já fosse cético,
porquanto observei-lhe:
- Hoje, não, meu Führer, e
sim quando a obra estiver terminada.
Nos começos de do 1939,
diante dos operários da construção, Hitler teve a intenção de justificar o
alcance de seu estilo arquitetônico com as seguintes palavras:
- Por que sempre com maior?
Faço-o para infundir aos alemães a confiança neles mesmos, para se poder dizer
a cada pessoa, em centenas de campos: "De modo nenhum somos inferiores,
mas, ao contrário, estamos inteiramente em situação de igualdade com qualquer
outra nação".
Não se deve atribuir única e
exclusivamente à forma de governo essa tendência ao gigantismo. O
enriquecimento rápido concorre para isso tanto quanto a necessidade de se
exibirem as próprias forças, sejam quais forem as razões. No entanto, o afã de Hitler
no exagero das dimensões ia além daquilo que confessou ante os trabalhadores. O
tamanho máximo tinha por objetivo glorificar sua obra, aumentar a confiança em
si mesmo. A finalidade de se erguerem aqueles monumentos era indicar a
existência de uma pretensão ao domínio do mundo, antes mesmo de o próprio Hitler
atrever-se a confessá-los aos seus mais íntimos colaboradores.
Também eu senti-me embriagado
pela idéia de criar uma história esculpida em pedra com o auxílio de desenhos,
o dinheiro e empresas construtoras, podendo portanto crer, antecipadamente, que
eu tinha direito a uma reivindicação milenária. Também suscitei o entusiasmo de
Hitler, quando pude demonstrar-lhe que, pelo menos quanto a dimensões, nós
tínhamos ultrapassado obras historicamente afamadas. Mas, em tais ocasiões, ele
era sempre comedido em seu entusiasmo, expresso em sóbrias palavras. Talvez se
sentisse então envolto em uma certa veneração por ele mesmo, imaginando essa
concepção da própria grandeza projetada no futuro.
No congresso do partido, em
1937, quando Hitler colocou a primeira pedra do estádio, concluiu seu discurso
com esta frase: "A nação alemã tem agora seu império germânico".
Brückner, ajudante-de-ordens de Hitler, contou que durante o almoço depois
daquela cerimônia o Marechal von Blomberg derramara lágrimas de emoção. Hitler
interpretou isso como plena aprovação do significado fundamental das palavras
que pronunciara.
Naquela época falou-se muito
que tais misteriosas palavras tinham por objetivo iniciar uma nova fase em uma
política de grande alcance. Seria muito aquilo que se originaria delas. Eu
sabia que, mais ou menos, qual era a intenção de Hitler ao pronunciá-las, pois,
poucos dias antes, em uma ocasião, inesperadamente, Hitler deteve-me na escada
do seu domicílio, deixando que passassem os demais membros da sua comitiva. E
disse-me:
- Edificaremos um grande
império, reunido todos os povos germânicos. Desde a Noruega até o norte da
Itália. Serei eu, pessoalmente, quem o vai fundar. Só necessito de saúde.
Mais tratava-se de um projeto
ainda muito reservado. Na primavera de 1937, Hitler visitou-me nos seus locais
de exposição, em Berlim. Estavam sós, diante da maquete de mais de 2 m de
altura do estádio com capacidade para quatrocentas mil pessoas. A maquete
achava-se exatamente à altura dos olhos e apresentava todos os detalhes que a
obra teria no futuro. Iluminada por poderosos refletores cinematográficos, a
maquete nos possibilitava fantasiar o que seria a obra, na realidade. Os
desenhos estavam fixados em pranchetas, ao lado da maquete. Hitler fixou o
olhar deles. Falamos de jogos olímpicos. Como em vezes anteriores, chamei-lhe a
atenção para o fato de não ter o meu campo de esportes as dimensões olímpicas
prescritas. Sem alterar a voz, como se tratasse de coisa lógica, compreensível,
indiscutível, Hitler disse:
- Isso não tem importância.
Os jogos olímpicos serão realizados outra vez em Tóquio no ano de 1940. Mas
depois se realizaram sempre na Alemanha, neste estádio. Seremos nós que
determinaremos as direções dos campos de esportes.
De acordo com nosso plano de
trabalho, cuidadosamente calculado, o estádio estaria concluído para o
congresso do partido em 1945...