sábado, 9 de fevereiro de 2013

Albert Speer - Por dentro do III Reich (05) - parte II

Albert Speer - Por dentro do III Reich (05) - parte II


Capítulo cinco - Megalomania edificada (parte 2)


Durante as obras de Nuremberg, havia na minha cabeça uma síntese entre o classicismo de Troost e a simplicidade de Tessenov. Não a qualificava propriamente de neoclássica, pois eu supunha tê-la derivado do estilo dórico. Eu me iludia a mim mesmo, ao esquecer que essas obras já tinham funcionado como bastidor teatral monumental, tendo sido assim durante a Revolução Francesa, no Campo de Marte em Paris, em outras circunstâncias menores. As características do classicismo e a simplicidade mal podiam se reconciliar com as dimensões gigantescas de que me utilizem em Nuremberg. Apesar disso, ainda hoje, os meus desenhos de Nuremberg são os que mais me agradam, ao contrário do que muitos outros que fiz mais adiante para Hitler e que eram muito mais pretensiosos.

E a primeira viagem ao estrangeiro ocorreu em maio de 1935. Foi motivada por minha preferência pelo mundo dórico. Não fui à Itália contemplar os palácios do Renascimento e as colossais obras romanas, embora lá tivesse podido encontrar modelos para as minhas construções. Dirigi-me à Grécia, o que me parecia lógico naquele tempo. Minha mulher e eu procurávamos na Grécia testemunhos do mundo dórico e ficamos profundamente impressionados - o que nunca mais se apagou em minha memória - com o Estádio de Atenas reconstruído. Quando, dois anos depois, tive de desenhar um projeto de estádio, adotei a forma de ferradura do estádio ateniense.

Pareceu-me descobrir em Delfos a rapidez com que as riquezas adquiridas das colônias jônio-asiáticas contribuíram para a decadência da pureza das criações artísticas gregas. Demonstra isso como é sensível uma elevada consciência da arte e como bastam insignificantes forças para alterar a peça e tornar irreconhecível a representação um ideal? Eu refletia sobre tais extremos, sem preocupar-me comigo. Meus próprios trabalhos pareciam evitar que eu caísse nesses perigos.

Depois de nosso regresso, em junho de 1935, terminou-se a construção de minha casa em Berlim-Schlachtensee. Não pude construir uma residência de grandes dimensões. Custou setenta mil marcos, e para eu levantar essa quantia meu pai teve de fazer uma hipoteca de trinta mil. Meus recursos financeiros eram escassos, apesar de trabalhar para o Estado e o partido como arquiteto profissional. Mas a minha desinteressada emoção, em uma ambiência idealista, característica da época, induzia-me à renúncia dos meus honorários em todas as minhas construções.

Essa atitude provocou a incompreensão de outras pessoas. Um dia, em Berlim, Goering, que estava bem-humorado - coisa inesquecível -, disse-me:

- Bem, Senhor Speer, agora tem muitas coisas para fazer e vai também ganhar um montão de dinheiro.

Minha resposta negativa provocou nele um olhar de incompreensão:

- Mas... Que diz? um arquiteto tão ocupado como o senhor? Pois eu supunha que fizesse uns cem mil marcos por ano. Os seus ideais são uma insensatez absoluta. O senhor tem de ganhar dinheiro!

Excetuando-se as obras realizadas em Nuremberg, pelas quais eu recebia mil marcos mensais, depois agir no sentido de me pagarem os honorários devidos a todo arquiteto. Mas não foi só por isso que tive a precaução de não perder minha independência profissional. Eu sabia que Hitler confiava mais nos arquitetos que não eram funcionários. A preferência de Hitler pelos particulares, em vez de funcionários públicos, exprimir-se também pelo seguinte: no final de minhas atividades de arquiteto, eu possuía um milhão e quinhentos mil marcos, aproximadamente, mas o Reich devia-me ainda outro milhão, que não cobrei nunca.

Minha família vivia feliz naquela casa. Bem quisera afirmar que eu também participava daquela dita familiar, tal como sonhara, junto de minha mulher. Mas eu chegava em casa fatigado, já alta noite. Os meninos já estavam dormindo. E eu, ao juntar-me á minha mulher, não abria os lábios, tão cansado me sentia. Essa situação não se alterou durante anos. Hoje, decorridos já tantos anos, quando relembro aquela maneira de viver, vejo que se dava a mesma coisa com os maiorais do partido, que se descuidavam da vida familiar para seguir um pomposo estilo de vida. Transformavam-se em estátuas imóveis, pela sua atividade oficial; eu, ao contrário, pelo meu excessivo trabalho.

No outono de 1934, Otto Meissner, que, depois de Ebert e Hindenburg, tinha encontrado em Hitler seu terceiro chefe, chamou-me ao telefone; eu teria de ir com ele a Weimar no dia seguinte, a fim de acompanharmos Hitler a Nuremberg. Estive desenhando, até à madrugada, projetos de que me ocupara desde algum tempo. Tinham de ser construídas outras grandes obras para os congressos do partido, um campo para as revistas militares, um grande estádio, um salão para os discursos culturais de Hitler e concertos sinfônicos. Por que não incorporar tudo isso ao já existente e formar um grande centro? Até então eu não me atreveria a tomar a iniciativa em questões semelhantes, pois a iniciativa era coisa que Hitler reservava para si mesmo. Sendo assim, executei aqueles desenhos a título precário.

Estando em Weimar, Hitler mostrou-me o projeto de um "foro do partido", obra do professor Schultze-Naumburg.

- Parece a praça principal, extraordinariamente grande, de uma cidade provinciana - foi a opinião dele. - Nada típico, não se diferencia das épocas anteriores. Se construirmos um foro para o partido, terá depois de dar a impressão de que foi erguido em nosso tempo, segundo nosso estilo, como por exemplo, a Koenigsplatz de Munique.

Schutze-Naumburg, uma autoridade no Kampfbund Deutscher Kultur, não teve possibilidade de justificativa. Não foi mais convidado. Hitler não teve consideração para com a fama daquele homem e promoveu novo concurso entre os diversos arquitetos de sua escolha.

Depois fomos à casa de Nietzsche, onde nos esperava sua irmã, a senhora Förster-Nietzsche. Era evidente que aquela mulher de tendências excêntricas não podia entender-se com Hitler. O ambiente tornou-se tenso e a conversação derivou para a superficialidade. No momento, o assunto principal resolveu-se com satisfação para todos. Hítler encarregou-se de financiar a construção de um anexo à velha casa de  Nietzsche. A Sra. Föster-Nietzsche concordou em que o arquiteto Schultze-Naumburg elaborar esse os planos respectivos.

- Ele se adaptará melhor ao aspecto da velha casa -  comentou Hitler,  visivelmente contente por poder proporcionar a aquele arquiteto uma pequena compensação.

Na manhã seguinte, continuamos nossa viagem de automóvel rumo à  Nuremberg, embora, naquele tempo, Hitler  preferisse o trem por motivos que vim a saber naquele mesmo dia. Como sempre, ele ia sentado ao lado do motorista, em um Mercedes conversível, de sete litros, de cor azul-escura. Eu havia sentado atrás dele, ao lado do criado, que, se fosse necessário, podia tirar de uma bolsa mapas de estradas, guloseimas, pastilhas. No assento traseiro, sentavam-se ou ajudante-de-ordens Brückner e o chefe de imprensa, doutor Dietrich. Em um carro de escolta, do mesmo tamanho e da mesma cor que o Mercedes, viajavam cinco homens vigorosos da seção de escolta e o médico particular, o doutor Brandt.

Mal nós chegamos ao outro lado do bosque de Turíngia, começaram os embaraços. Estávamos em uma zona muito povoada. Ao passarmos por um povoado, fomos reconhecidos, mas conseguimos nos afastar antes que a população se manifestasse.

- Preste atenção - observou Hitler. - Quando chegarmos a outra localidade já não será tão fácil nos desvencilharmos. Com toda a certeza, o pessoal daqui já avisou por telefone com os habitantes da outra povoação.

Realmente, quando chegamos as ruas estavam cheias de cidadãos e jubilosos. O agente policial fazia o possível para cumprir o seu dever, mas o automóvel só podia rodar muito lentamente. Mal havíamos conseguido abrir caminho, quando alguns entusiastas fecharam a passagem de nível, na estrada, para Hitler ser detido e assim receber os cumprimentos daquela gente. Daquela forma, era quase impossível continuarmos a viagem. Chegando a hora do almoço, desviamo-nos para uma pequena pousada em Hildburgshausen, onde anos antes Hitler tinha obtido nomeação de um comissário dos gendarmes, para conseguir a nacionalidade alemã, fato que ele nunca mencionou. Os donos e empregados estavam alvoroçados. Custou ao ajudante-de-ordens pedir comida: espaguete com ovos.

Estivemos esperando muito tempo, e, finalmente, o ajudante-de-ordens foi dar uma vista de olhos na cozinha, voltando para dizer:

- As mulheres estão excitadas, ao ponto de não saberem se há espaguetes ou não.

Enquanto isso, do lado de fora tinham se reunido milhares de pessoas que aos gritos chamavam por Hitler.

- Quem nos dera já estivéssemos longe daqui! - disse o Führer.

Lentamente e sob uma chuva de flores, chegamos afinal à porta da cidade, em estilo medieval. Moços fecharam-na diante de nós, enquanto os meninos subiam aos pára-lamas. Hitler teve de distribuir autógrafos. Então, vindo, abriram a porta, sendo nisso auxiliados por Hitler.

No campo, em toda parte, os camponeses detinham-se diante de nós, enquanto as mulheres acenavam. Era uma viagem triunfal. Enquanto o automóvel rodava, Hitler, recostando-se no assento, voltou-se para mim, dizendo:

- Até agora, só um alemão foi recebido assim, antes de mim: Lutero. Quando ele percorreu o país, toda a gente acudia em massa para vê-lo e alojá-lo, como estão fazendo hoje comigo.

Essa grande popularidade era perfeitamente compreensível. O povo atribuía unicamente a Hitler os êxitos obtidos no terreno econômico e na política exterior. Viam nele, cada vez mais, o homem capaz de realizar a aspiração, profundamente enraizada, de uma Alemanha poderosa, segura de si mesma e unida. Os desconfiados eram apenas uma minoria. Quem, uma vez ou outra, sentisse dúvidas, estas seriam desfeitas, quando se pensasse nos êxitos e no respeito que usufruía o regime em países estrangeiros.

Durante aquela embriaguez tributada pela gente do campo, em face da qual eu me sentia também fascinado, em um de nossos carros havia um ambiente intranquilo provocado por Schreck, o turista que estava há muitos anos a serviço de Hitler. Eu o ouvia trechos da conversa: "estão descontentes por", "a gente do partido envaideceu-se", "orgulhosos, esquecidos da sua origem". Depois da morte prematura, no gabinete particular de Hitler, em um Obersaltzberg, estavam pendurados juntos com quadro a óleo de Schreck e uma pintura da mãe de Hitler. Mas não havia nenhuma fotografia do pai.

Pouco antes de chegar a Bayeruth, Hitler entrou sozinho em um pequeno Mercedes, fechado, conduzido por seu fotógrafo particular Hoffmann. Aquele carro, sem ser reconhecido, chegou à quinta Wahnfried, onde o esperava a senhora Winifred Wagner. Nós nos dirigíamos ao balneário de Berneck, nas proximidades, onde Hitler costumava passar a noite, quando viajava de Munique a Berlim em automóvel. Em 8 horas, tínhamos percorrido somente 210 km.

Quando eu soube que Hitler sairia na casa de Wahnfried já tarde da noite, senti-me levemente confuso. Na manhã seguinte, a viagem deveria prosseguir, rumo a Nuremberg. Eram muito possível que Hitler resolvesse lá o programa das obras, de acordo com os desejos da administração municipal, que tratava dos seus próprios interesses. Se a administração municipal conseguisse impor-se, não haveria nenhuma possibilidade de meu projeto ser tomado em consideração, porquanto muito desagradava a Hitler voltar atrás em sua decisão. Naquela noite, falei somente com Schreck, a quem expliquei meu projeto para os terrenos do partido. Ele prometeu-me falar a Hitler sobre o assunto, durante a viagem, e apresentar-lhe os desenhos, no caso de sua reação ser positiva.

Na manhã seguinte, pouco antes de começar a viagem, fui chamado ao gabinete de Hitler:

- Estou de acordo com o seu projeto. Hoje mesmo falaremos a respeito com o Prefeito Liebel.

Dois anos mais tarde, Hitler dirigia-se ao prefeito para falar-lhe diretamente das suas idéias.

- Aqui está o projeto para os terrenos do partido que queremos que se faça assim.

Mas, em 1935, não se sentia ainda tão autoritário; necessitou de uma hora de explicações preliminares, antes de abrir sobre a mesa o meu desenho. Desde logo, o prefeito achou extraordinária a minha idéia, pois sendo um antigo camarada do partido estava habituado a concordar com a opinião dos chefes.

Depois dos elogios ao meu plano, Hitler iniciou uma sondagem no ambiente, pois o meu projeto que implicava a mudança do jardim zoológico.

- Podemos esperar o consentimento dos habitantes da cidade? Sei que estão muito afeiçoados ao jardim, e, certamente, teremos de cuidar a instalação de um novo, sem dúvida mais bonito.

O prefeito, que era também um bom defensor dos interesses da sua cidade, esclareceu:

- Teremos que convocar os acionistas. Talvez tentar comprar-lhes as ações.

Hitler esteve de acordo com tudo. Na rua, Liebel, esfregando as mãos, disse a um dos seus colegas da administração:

- Por que o Führer esteve tanto tempo tentando convencer-me? Naturalmente, o atual jardim zoológico será dele e nós teremos um novo. O velho já não tinha valor. Agora, vamos ter o mais belo jardim zoológico do mundo. E, além disso, receberemos dinheiro.

Dessa forma, os habitantes de Nuremberg obtiveram o seu novo zoológico. Foi a única obra realizada, em todo o projeto aprovado, naquele tempo.

No mesmo dia, fomos de trem para Munique. O ajudante-de-ordens, Brückner, chamou-me depois ao telefone:

- O diabo leve o senhor e o seu projeto! O senhor não poderia ter esperado? O Führer não pregou os olhos, durante a noite inteira, tal a sua excitação. Na próxima vez, o senhor faça-me o favor de falar antes comigo!

Para a realização daquele projeto, foi criada uma organização denominada Associação para Tratar do Aproveitamento dos Terrenos do Partido em Nuremberg, em carregando-se do financiamento, muito contra a vontade, o ministro da Fazenda do Reich. Hitler nomeou, para a presidência, Kerrl, ministro dos Cultos do Reich, e seu suplente Bormann, que assim obteve pela primeira vez, á margem da chancelaria do partido, um cargo oficial de importância.

Dois anos depois de ter sido aprovado por Hitler, meu projeto para os terreno do partido foi exposto em maquete, na Exposição Internacional de Paris de 1937, e distinguido com o Grand Prix. No extremo sul da instalação completa, estava o Campo de Marte. Esse nome, além de referir-se ao deus da guerra, tinha por finalidade também cortar um mês em que Hitler restabelecera o serviço militar obrigatório. Naqueles terrenos extensos, a Wermacht realizaria exércitos de combate simulado, em uma superfície e mil e cinqüenta por setecentos metros. Tinham-se planejado tribunas de catorze metros de altura, que rodeiavam todo o terreno, com capacidade para cento e sessenta mil espectadores. Vinte e duas torres de mais de quarenta metros de altura dariam uma distribuição simétrica ás tribunas, uma das quais seria a de honra, encimada por uma estátua de mulher. Ao norte, exatamente na direção do antigo palácio dos Hohenzollern, via-se ao longe o Campo de Marte, com uma avenida de dois quilômetros de comprimento por oitenta metros de largura. Tinha-se previsto que a Wehrmacht desfilaria diante de Hitler, em formações com cinquenta metros de largura. Essa avenida, terminada antes da guerra, foi revestida de grossas lajes de granito, bastante fortes para resistirem ao peso dos tanques. O chão tinha sido raspado a fim de que os soldados pudessem pensar com firmeza, durante os desfiles. À direita levantava-se uma construção com escadas, na qual Hitler, rodeado dos generais, presidiria ao desfile. Do outro lado, á frente, estava uma galeria, sustentada por pilares, onde se colocariam as bandeiras dos regimentos.

Essa galeria de pilares, com dezoito metros de altura somente, serviria de medida comparativa para o "grande estádio" que se levantaria por trás, para o qual Hitler estabelecera capacidade de quatrocentos mil espectadores.

Calculamos que o Estádio de Nuremberg custaria de duzentos a duzentos e cinqüenta milhões de marcos, ou seja, cerca de um bilhão de marcos de agora, segundo os preços atuais da construção. Hitler não fez nenhum reparo:

 - É menos dinheiro do que o do custo dos couraçados do tipo Bismarck. Um couraçado desses pode ser destruído rapidamente; e, quando não, de qualquer maneira, depois de dez anos, será reduzido a ferro-velho. Mas esta obra durará séculos. Evite responder ao ministro da Fazenda, quando ele lhe perguntar pelo preço. Diga-lhe que ainda não se tem experiência de projetos dessa grandeza.

Encomendou-se granito no valor de alguns milhões de marcos, vermelho-claro para a parte externa e mais claro para a tribuna dos espectadores. No local da obra foi aberto um fojo gigantesco para depósito de cimento, que se transformou num pitoresco lago, durante a guerra, e fazia presumir a gigantesca grandeza da construção.

Mais ao norte do estádio, a avenida para os desfiles passava por cima de uma superfície líquida, na qual se refletiam as obras, seguindo-se-lhe, para terminar, uma praça à direita da qual se encontraria a Sala dos Congressos, ainda existente hoje, ao passo que, do lado esquerdo, estaria fechada por uma "sala cultural", a qual seria expressamente construída para Hitler dispor de um local adequado para os seus discursos culturais.

Excetuando-se a Sala dos Congressos, já desenhada em 1933 pelo arquiteto Ludwig Ruff, Hitler designada-me arquiteto de todas as obras levantadas nos terrenos do partido. Deixou-me as mãos livres, quanto a planos de realizações, desde então, todos os anos procedendo à colocação de uma pedra fundamental. Essas pedras, logo depois da cerimônia, eram levadas ao depósito municipal, para depois serem de novo levadas ao seu lugar, quando a obra estivesse bastante adiantada. Quando se colocou a primeira pedra do estádio, no dia 9 de setembro de 1937, Hitler apertou-me a mão, cerimoniosamente, diante de todos os hierarcas do partido, dizendo-me:

- Este é o maior dia da sua vida.

Talvez eu já fosse cético, porquanto observei-lhe:

- Hoje, não, meu Führer, e sim quando a obra estiver terminada.



Nos começos de do 1939, diante dos operários da construção, Hitler teve a intenção de justificar o alcance de seu estilo arquitetônico com as seguintes palavras:

- Por que sempre com maior? Faço-o para infundir aos alemães a confiança neles mesmos, para se poder dizer a cada pessoa, em centenas de campos: "De modo nenhum somos inferiores, mas, ao contrário, estamos inteiramente em situação de igualdade com qualquer outra nação".

Não se deve atribuir única e exclusivamente à forma de governo essa tendência ao gigantismo. O enriquecimento rápido concorre para isso tanto quanto a necessidade de se exibirem as próprias forças, sejam quais forem as razões. No entanto, o afã de Hitler no exagero das dimensões ia além daquilo que confessou ante os trabalhadores. O tamanho máximo tinha por objetivo glorificar sua obra, aumentar a confiança em si mesmo. A finalidade de se erguerem aqueles monumentos era indicar a existência de uma pretensão ao domínio do mundo, antes mesmo de o próprio Hitler atrever-se a confessá-los aos seus mais íntimos colaboradores.

Também eu senti-me embriagado pela idéia de criar uma história esculpida em pedra com o auxílio de desenhos, o dinheiro e empresas construtoras, podendo portanto crer, antecipadamente, que eu tinha direito a uma reivindicação milenária. Também suscitei o entusiasmo de Hitler, quando pude demonstrar-lhe que, pelo menos quanto a dimensões, nós tínhamos ultrapassado obras historicamente afamadas. Mas, em tais ocasiões, ele era sempre comedido em seu entusiasmo, expresso em sóbrias palavras. Talvez se sentisse então envolto em uma certa veneração por ele mesmo, imaginando essa concepção da própria grandeza projetada no futuro.



No congresso do partido, em 1937, quando Hitler colocou a primeira pedra do estádio, concluiu seu discurso com esta frase: "A nação alemã tem agora seu império germânico". Brückner, ajudante-de-ordens de Hitler, contou que durante o almoço depois daquela cerimônia o Marechal von Blomberg derramara lágrimas de emoção. Hitler interpretou isso como plena aprovação do significado fundamental das palavras que pronunciara.

Naquela época falou-se muito que tais misteriosas palavras tinham por objetivo iniciar uma nova fase em uma política de grande alcance. Seria muito aquilo que se originaria delas. Eu sabia que, mais ou menos, qual era a intenção de Hitler ao pronunciá-las, pois, poucos dias antes, em uma ocasião, inesperadamente, Hitler deteve-me na escada do seu domicílio, deixando que passassem os demais membros da sua comitiva. E disse-me:

- Edificaremos um grande império, reunido todos os povos germânicos. Desde a Noruega até o norte da Itália. Serei eu, pessoalmente, quem o vai fundar. Só necessito de saúde.

Mais tratava-se de um projeto ainda muito reservado. Na primavera de 1937, Hitler visitou-me nos seus locais de exposição, em Berlim. Estavam sós, diante da maquete de mais de 2 m de altura do estádio com capacidade para quatrocentas mil pessoas. A maquete achava-se exatamente à altura dos olhos e apresentava todos os detalhes que a obra teria no futuro. Iluminada por poderosos refletores cinematográficos, a maquete nos possibilitava fantasiar o que seria a obra, na realidade. Os desenhos estavam fixados em pranchetas, ao lado da maquete. Hitler fixou o olhar deles. Falamos de jogos olímpicos. Como em vezes anteriores, chamei-lhe a atenção para o fato de não ter o meu campo de esportes as dimensões olímpicas prescritas. Sem alterar a voz, como se tratasse de coisa lógica, compreensível, indiscutível, Hitler disse:

- Isso não tem importância. Os jogos olímpicos serão realizados outra vez em Tóquio no ano de 1940. Mas depois se realizaram sempre na Alemanha, neste estádio. Seremos nós que determinaremos as direções dos campos de esportes.

De acordo com nosso plano de trabalho, cuidadosamente calculado, o estádio estaria concluído para o congresso do partido em 1945...

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