domingo, 6 de janeiro de 2013

Albert Speer - Por dentro do III Reich (03)


Capítulo 03 – Rumo traçado

Seria mais natural que, lembrando aqueles ano, eu falasse, principalmente, da minha vida profissional, da minha família, das minhas tendências. Mas os novos fatos e experiências foram nos meus pensamentos relegados a um segundo plano. Acima de tudo, eu era arquiteto.

Sendo dono de um automóvel, converti-me em membro da associação de motoristas do partido (NSKK). Sendo uma nova organização, adquiri automaticamente a categoria de chefe de seção de Wannsee, localidade onde nós residiamos . mas ainda assim, no princípio, eu estava longe de pensar em uma atividade partidária séria. Quanto ao mais, eu era um único dono de carro em Wannsee, portanto em minha sessão. os outros membros nutriam o desejo de possuir um, no caso de se realizar a "Revolução" com a qual eles sonhavam. E, para se prevenir no momento oportuno, indagava o em que locais do rico arrabalde estavam à sociedade se recreativas, onde eles encontrariam os autos necessários para o dia D.

O meu cargo fez que eu me dirigisse várias vezes à Chefatura da Comarca do Oeste, chefiada por um homem simples, mas é inteligente e enérgico, um jovem moleiro chamado Karl Hanke. Tinha alugado para futuro quartel da sua organização uma excelente quinta, no distinto bairro de Grünewald. Mas, depois da vitória eleitoral de 14 de novembro de 1930, o partido, transformado em poderosa por crença ação, estava se esforçando por adquirir filho fez categoria social. Pediu-me que adaptarsse a quinta, sem receber nenhum pagamento.

Falamos de papéis pintados para forro das paredes, cortinas, cores. Por indicação minha o jovem e segurança da comarca escolheu papéis pintados de empresas de construção, embora eu lhe tivesse dito que tais papéis eram "Comunistas". Mas ele resolveu o assunto fazendo um largo gesto com a mão: "Nós corremos o melhor, em toda parte, até dos comunistas." Falando assim, ele exprimia aquilo que Hitler e seu Estado-Maior faziam há anos: reunir de toda parte o que oferecesse maiores possibilidades de êxito, sem considerar as ideologias; e até decidir sobre questões ideológicas visando o efeito na massa eleitoral.

A situação ao partido era cômoda e agradável. Depois do entusiástica um movimento do partido em Berlim, para o qual eu fora arrastado cada vez mais, a sessão de Mannheim pareceu-me uma reunião de amigos que jogam cartas. Não tinha nenhum NSKK. Por isso em Berlim designaram-me para as SS motorizadas. Quando se iniciaram os preparativos para as eleições de julho de 1932, minha esposa e eu fomos a Berlim, para participarmos um pouco da excitante atmosfera eleitoral e também ajudar os na medida do possível. Isso porque as perspectivas pouco lisonjeiras no setor profissional tinham intensificado meu interesse político, ou o que eu assim denominava. Queria contribuir para a vitória eleitoral de Hitler. Nós tínhamos a intenção de ficar em Berlim somente poucos dias, depois iríamos aos lagos da Prússia Oriental, a fim de fazermos uma excursão com os nossos botes desmontáveis, na qual já tínhamos pensado antes.

Apresentei-me, com o meu automóvel, ao chefe da NSKK da Chefatura da Comarca do Oeste de Berlin, Will Nagel. Ele utilizou-se de mim para servir de correio entre diversas chefaturas locais do partido. Não era de estranhar que eu me sentisse muito incomodado, quando tinha de andar pelos distritos de Berlim dominado pelos "Vermelhos". Em soltam os estreitos, eles faziam emboscadas as tropas de choque nacional-socialistas, que nesses lugares levavam uma vida difícil. O mesmo acontecia com os elementos comunistas que avançavam nas zonas dominadas pelos nazistas. Não posso esquecer a fisionomia não angustiada, triste e cansada, por uma noite passada sem dormir, do chefe de uma seção nacional-socialista, em pleno distrito de Moabit, um dos lugares mais mal freqüentada os naquele tempo. Aqueles homens arriscaram suas vidas, sacrificaram a saúde, por uma idéia, ignorando que estavam sendo utilizados em prol das idéias fantásticas de um homem ávido de poder.

Estava previsto que Hitler chegaria ao Aeródromo de Staaken e, em Berlim, no dia 17/07/1919 e trinta e dois, antes de uma manifestação que se realizaria de manhã em Eberswalde. Tinham-me designado para levar meu carro a um informante de Staaken ao local da próxima reunião: o Estádio de Bradenburgo. Quando o trem motor cessou de rodar na pista, Hitler e alguns dos seus colaboradores e assistentes desceram do aparelho. Excetuando-se nós, não havia quase ninguém no aeroporto. Eu estava um pouco afastado, mas vi que Hitler fazia críticas nervosos aos da sua comitiva, porque não tinham chegado os automóveis. Caminhava para cima e para baixo, colérico, batendo com um rebenque nas outras botas de montaria, dando a impressão de uma pessoa mal-humorada, incapaz de dominar-se e que tratava com desprezo seus colaboradores.

O que quer de agora era completamente distinto do homem tranqüilo que educado que eu vira durante a reunião de estudantes. Sem pensar muito nisso, nem me conta então das muitas casas que esse homem podiam mostrar; possuidor de muita intuição teatral, ele podia adotar um comportamento público segundo as mais diferentes situações, enquanto prosseguia negligentemente diante daqueles que estavam em sua proximidade, seus servidores e assistentes.

Chegaram os carros. Subi ao meu desajeitado veículo esporte e a toda velocidade à dianteira em alguns minutos a coluna motorizada de Hitler. Chegando a Bradenburgo, às margens da estrada, nas proximidades do estádio, se achavam ocupadas por social-democratas e comunistas. Por isso - seu acompanhante vestia o uniforme do partido -  nós tivemos de atravessar aquela multidão excitada. Quando, alguns minutos depois, chegou Hitler com toda a sua comitiva, a multidão transformou-se em massa rugidora em furiosa. O automóvel foi abrindo  passagem, vagarosamente, estando Hitler de pé ao lado do motorista. A minha impressão negativa, quando ele desceu no campo de aviação, evaneceu-se com essa nova imagem do chefe do Partido Nacional Socialista.



O dia seguinte foi o decisivo para o meu futuro político. Os botes desmontáveis já me esperavam na estação, as passagens compradas e fixada para a noite a hora de nossa parte da para a Prússia Orienta. Mas ao meio-dia foi chamado ao telefone. Nagel, o chefe da NSKK, comunicou-me que Hanke Sharon, que fora promovido as funções de chefe  não de organização na região de Berlim, desejava ver-me.

Hanke recebeu-me  amistosa mente.

- Estive à sua procura por toda parte. Quer reformar nossa nova chefatura regional?! hoje mesmo farei a proposta ao doutor Goebbels. Temos pressa.

Algumas horas mais tarde eu já estaria viajando no trem tá a fim de passar algumas semanas à margem dos solitários lagos da Prússia Ocidental. Ninguém me teria encontrado e a chefatura teria que procurar outro arquiteto. Durante anos, considerei que isso foi o passo mais importante em minha vida. Meu caminho agora estava traçado. Vinte anos depois, que já em Spandau, li as seguintes frases de James Jeans: "A marcha de um trem e está claramente determinada pelos trilhos, na maioria dos pontos de trajeto. Mas de vez em quando há um entroncamento de linhas.Aí podemos ir em uma ou outra dessas linhas, mediante um gasto insignificante de energia, o necessário para a oportuna manobra das agulhas".

A nova chefatura de comarca estava na Voss Strasse, rodeada das legações dos Estados alemães. O das janelas traseiras podia-se ver o parque onde passeava ou octagenário presidente do Reich, frequentemente  acompanhado de políticos e de militares. Segundo Hanke, o partido, caminhando rumo ao centro político do país, denunciava suas aspirações políticas. Meus objetivos porém eram mais modestos: pintar de novo as paredes de fazer alguns consertos. Foi relativamente fácil mobiliar a sala de reuniões e o gabinete do chefe, pois me faltavam recursos restava ainda sob a influência de Tessenov. Mas essa modéstia contrariava a ornamentação em madeira e estuque do tempo em que a casa fora construída. Eu trabalhava dia e noite, pois a organização da chefatura regionalmente apreciava para concluir os trabalhos o mais breve possível. Raras vezes vi  Goebbels. Estava muito ocupado na campanha para as eleições do dia 06 de novembro de 1932. Quando parecia lá, eu lhe mostrava as dependências da sala, mas ele, um tanto apressado, como se estivesse sendo perseguido, não dava muita atenção ao que se estava fazendo.

Terminou-se a reforma da casa; tinha se gasta mais dinheiro do que se supunha, e perderam-se as eleições. Os subscritores diminuíram, o caixa torcia as mãos ao ver as contas que cria-se eram apresentadas à, e aos operários só podiam mostrar o cofre vazio. Este isso, sendo membros do partido, tiveram de concordar em uma moratória de meses, para evitar a falência da chefatura.

Dias depois da inauguração, Hitler visitou a chefatura regional, a que tinham dado o seu nome. Eu soube que a reforma lhe agradava, o que me envaidecido, sem no entanto ter certeza do endereço do elogio, se a sobriedade dos meus esforços arquitetônicos, se ao estilo barroco da época do Imperador Guilherme.

Não demorei muito em voltar ao meu escritório de Mannheim. Nada mudará. A situação econômica, portanto a perspectiva de contratos de construção, era pior do que antes. Além disso as circunstâncias políticas estavam mas confusas. As crises se sucediam e não repassavam os nisso, pois as incertezas persistiam. Em janeiro de 1933, vi que Hitler fora designado chanceler do Reich. Mas para mim esse acontecimento não teve significado imediato. Pouco depois, participei de uma reunião de sócios do grupo vocal de Manhattan em. Chamou minha atenção a precariedade do nível intelectual e das qualidades pessoais da gente do partido e pensei: "Não se pode dirigir um Estado com gente assim". Mas eram preocupações inócuas. O maquinista estatal continuou funcionando, sem desgaste, também sob a direção de Hitler.



Realizaram se as eleições do dia 5 de março de 1933. Uma semana depois recebi de Berlim um chamado telefônico. Era Hank que falava comigo, e perguntou:

- Quer vir a Berlim? Temos várias coisas para você. Quando pode estar aqui?

Preparamos nosso pequeno BMW, fizermos a maleta e à noite partimos para Berlim. Depois de uma noite sem dormir, na manhã seguinte apresentei-me a Hanke, no edifício da chefatura.

- Vá imediatamente para ver com Doutor (Goebbels) - disse-me. - Quer examinar o edifício do seu ministério.

Assim, dirigi-me em companhia de o gol deus ao formoso edifício levantado na Wilhelmsplatz. Algumas centenas de pessoas; talvez aguardando Hítler, acenaram ao ministro por não foi somente aí que notei os novos rumos da vida em Berlim. Após a grande crise, toda a gente parecia mais otimista e espera lançada. Todos sabiam que desta vez não se tratava de mais uma das habituais mudanças de o governo. Todos pareciam sentir que se tinha chegado a um momento decisivo. Pessoas desconhecidas conversavam nas ruas, rindo ou manifestando sua concordância com o que estava acontecendo. Mas em outras partes, em qualquer lugar que, em silêncio, o nacional-socialismo saudava contas com os inimigos que, durante anos, tinham lutado contra ele. Também milhares de pessoas tinham receios, devido à sua origem, sua religião, suas convicções.

Depois de inspecionar o edifício, o gol deus encarregou me da reforma do seu ministério, da instalação de diversos cômodos, salão de despachos, sala de reuniões. Recomendou que iniciar seu trabalho sem demora, sem esperar a aprovação do orçamento, sem ver se o governo dispunha ou não de recursos. Demonstrou-se mais tarde ser essa uma exigência despótica, porque ainda não havia nenhum orçamento para o Ministério da Propaganda, de recente instituição. Fiz o possível por executar a obra, subordinando-me de má vontade aliás, a arquitetura de Schinkel, no interior do edifício. Gol deus no entanto foi de opinião que os móveis não eram suficientemente vistosos. Alguns meses depois, dei à Vereinigten Werkstäten a incumbência de mobiliários novamente as dependências em "estilo de transatlântico".

Hanke tinha conseguido no ministério a influente posição de "Secretário do ministro", dominando com muita habilidade. Foi no  escritório de Hanke que eu vi naquele dias o projeto de preparo da cidade de Berlim para a manifestação em massa, prevista para a noite de 1o. de maio, no Aeródromo de Templelhor. Aquele projeto feriu meus sentimentos, de revolucionário e de arquiteto.

- Isso parece a decoração para uma festa de atiradores.

- Se Você pode fazer isso melhor - observou Hanke. -, trate disso.

Naquela mesma noite, surgiu o projeto de uma grande tribuna por trás de três enormes bandeiras, em mastros mais altos do que um edifício de dez pavimentos. Duas seriam ttricolores - negro, branco, vermelho -, e 1, no centro, teria o símbolo da suástica. O projeto era ousado, pois as bandeiras seriam de estendidas de um para outro mastro e em caso de vento forte fariam o efeito de velas. Seriam iluminadas com refletores. O projeto foi aceito imediatamente e eu dei um passo à frente na minha carreira.

Vaidoso, mostrei minha concepção ao professor Tessenov, já executada. Ele, apoiando-se firmemente nas pernas, observou:

- Supõe ter realizado alguma coisa? Isso causa impressão, quando muito.

Em compensação, segundo me disse Hanke, Hitler mostrou-se entusiasmado com o projeto. Com certeza, Goebells considerou o êxito como coisa sua.

Semanas depois, ligou deus e instalou-se no domicílio oficial do Ministério de Abascetimentos. Não o fez sem usar alguma compulsão, pois Hugenberg exigiu que o local deveria ficar à disposição dele, ministro de Abastecimentos por depois recebi o encargo de instalar aqui venda ministerial e também de construir uma grande casa de campo. Para adornar as paredes da vivenda de Gobells, pedi algumas aquarelas de Nolde e Eberohard Hansfstaengl, diretor da Galeria Nacional de Berlim. Gobbels e sua esposa aceitaram-nas, ambos entusiasmados. Mas Hitler foi inspecionar as obras e quando viu as aquarelas manifestou seu desagrado. O ministro chamou-me imediatamente, para dizer-me:

- Esses quadros têm que ser retirados imediatamente, são uns verdadeiros monstrengos...

Nos primeiros meses seguintes à ascensão do partido ao poder, houve algumas exposições de pintura moderna. Esta, depois de 1934, foi qualificada como de "degenerada". Hans Weidemann, antigo membro do partido em Essen, agraciado com as insígnias de ouro do partido, dirigia no Ministério da Propaganda a seção de arte figurativa. Ignorando o incidente das aquarelas de N de, reuniu para Goebells muitos quadros, pouco mais ou menos no estilo de Nolde e Munch, recomendando-os ao ministro como expressão de uma arte nacional e revolucionária. Goebbels, escarmentando, mandou retirar imediatamente os quadros comprometedores. Weidemann recusou concordar com essa condenação de tudo quanto fosse moderno, sem exceção. Pouco tempo depois foi transferido para outra função  subalterna no ministério. Foi inquietante para minha são manifestações de autoridade e de submissão, como também verificar a ilimitada autoridade de Hitler, mesmo em questão de gosto, sobre o homens que tinham colaborado com ele durante muitos anos. De Goebells mostrar a se submisso a Hitler, incondicionalmente. Isso também funcionava com relação a nós. Quanto a mim, é namorado de arte moderna, aceitava em silêncio as decisões de Hitler.

Mal eu executará a encomenda de Goebells, em julho de 1933, foi chamado a Nuremberg. Naquela cidade estavam organizando o 1º congresso do partido, já no poder. Essa vitória política tinha de ter sua expressão na arquitetura dos cenários. Nenhum o arquiteto, em Nuremberg, apresentou um projeto que agradasse aos homens do partido. Viajei de avião e apresentei os expulsos, não muito ricos em idéias novas, pois se pareciam com os 1 de maio. Mas, agora, o em vez de bandeiras-velas, o Zeppelinfield restaria o ornamentado por uma a guia gigantesca, com mais de 30 m de envergadura, colocada por cima de um painel com se fosse uma borboleta cravada em cartão para coleção de insetos.

O chefe da organização de  Nuremberg não teve a coragem de uma decisão pessoal a respeito do desenho e por isso enviou-me à chefatura com sede em Munique. Uma carta de apresentação informava que eu era completamente desconhecido em Berlim. Na Casa Cinzenta, a minha arquitetura, ou melhor, a decoração para uma festa foi considerada de extraordinária importância. Foi logo levado a presença de  de, em uma sala luxuosamente mobiliada. Eu levava minha pasta de desenho embaixo do braço. Ele nem me deixou falar e foi logo dizendo:

- Uma coisa dessas só pode ser resolvida pessoalmente pelo Führer.

Falou alguns breves momentos ao telefone, dizendo-me em seguida:

- O Führer está em casa. Mandarei levar o senhor até ele.

Pela primeira vez tive uma idéia do que significava a palavra mágica "arquitetura" no regime de Hitler.

Chegamos diante de um edifício de vários pavimentos nas proximidades do Teatro Prinzregenten. Subimos duas escadas e entramos em uma rampa e-sala com o presente sem lembranças vulgares. Também os móveis eram de bastante mau gosto. Saiu de uma porta ou oficial de gabinete, que me disse, simplesmente: "Por favor". Vi-me então que enfrente a Hitler, o poderoso chanceler do Reich. A sua frente, na mesa, estava uma pistola desmontada aqui ele parecia estar limpando.

Disse-me laconicamente:

- Desdobre seus desenhos aqui.

Nem mergulhou, afastou as peças da arma e examinou o projeto com interesse, mas em silêncio, apenas dizendo a final: "De acordo".

Não falou mais, e, com continuou a dar atenção à pistola, saí da sala um tanto perplexo. Em Nuremberg, quando eu disse que obtivera a autorização do próprio Hitler, em pessoa, todos ficaram admirados.

No outono de 1933, Hitler encarregou seu arquiteto de Munique, Paul Ludwig Troost, que fizera as instalações do transatlântico "Europa", reformando também a Casa Cinzenta, de fazer uma reforma completa na residência do chanceler do Reich, em Berlim. O serviço deveria  estar terminado no menor período de tempo possível. Troost foi  o demônio que para Berlim, mas não pude chegar a um entendimento com as empresas berlinenses. Hitler lembrou então que um jovem arquiteto executará para Goebells um serviço em tempo rápido. Determinou assim que eu auxiliasse Troost na escolha de casas comerciais, em Berlim.

Essa colaboração começou com uma inspeção completa no prédio, feita por mim e o mestre de obras de Hitler. Depois da revolução de 1918, a casa começou a desmoronar, aos poucos. Agora, os tetos de os assoalhos estavam apodrecidos, os painéis das paredes e estragados, e no interior sentia-se um fedor insuportável.

Não há exagero nessas palavras. Inacreditável é que o prédio tenha chegado àquele estado. Na ocasião, Hitler disse com ênfase:

- Aí tem os senhores se expressa a podridão da antiga república. Nem a residência do chanceler pode ser mostrada a um estrangeiro. Eu me envergonharia de receber aqui uma visita.

Depois de cerca de 3 horas de inspeção chegamos ao sótão. O administrador explicou:

- Esta porta abre para a casa vizinha.

- Como?

- Por aqui se vai ao Hotel Adlon, passando-se pelos sultões dos ministérios.

- Por quê?

- Durante os distúrbios, nos começos da República do Weimar, ficou provado que o chanceler do Reich poderia ficar isolado do exterior, se os subir levados cerca sem o edifício. Este era o caminho que possibilitaria uma retirada a qualquer momento.

E quer ordenou que abrisse a porta. De fato, dava para o sótão contíguo do Ministério das Relações Exteriores. Disse então:

- Tapem essa porta. Não necessito disso.

Iniciadas as obras, de Claire, acompanhado do seu assistente, quase todos dias ao meio-dia ia ver com o andamento dos trabalhos. Os numerosos trabalhadores das obras não tardaram a saudá-lo, amistosamente e sem cerimônia. Os homens das SS, à paisana, afastava se um pouco, para não se  notar a presença de Hitler. Havia assim uma atmosfera e idílica, nessas ocasiões em que Hitler parecia estar "em sua casa". Ao mesmo tempo, evitava se toda espécie de popularidade servil e fácil.

Durante essas visitas de inspeção, o diretor das obras e eu o acompanhávamos. Diz que íamos perguntas amistosas porém lacônicas: "Quando vão limpar aqui?" o "Quando chegou às janelas?" "Já vieram de Munique os desenhos dos detalhes?" "Ainda não?" "Vou falar pessoalmente com Troost sobre isso."

Passávamos a outra peça do prédio. "Ah, aqui já estiveram trabalhando." "Este florão  que no teto está muito bonito." "O professor sabe fazer essas coisas de um modo maravilhoso." "Quando supõe o senhor que vai terminar? Tenho alguma pressa. Agora só dispunha do pequeno apartamento do subsecretário no sótão, e não posso convidar ninguém cair lá. Como era ridícula a economia da República!" "Já viu a entrada?" "E o elevador? Qualquer armazém tem o melhor." realmente, o elevador parava de vez em quando e nele só entravam três pessoas.

Assim aparecia em Hitler. É fácil imaginar que essa naturalidade me impressiona se. E no entanto ele não era somente o chanceler do Reich, mas também o homem com a qual a vida na Alemanha começou a reanimar-se, o homem que procurava dá trabalho aos operários e tratava de executar de grandes programas econômicos. Só muito tempo depois, verificando por menores, comecei a perceber que na propaganda havia uma boa parte de segundas intenções.

Vinte ou trinta vezes acompanhei-o em suas inspeções. No decurso de uma delas, perguntou-me:

- Quer ir hoje jantar comigo?

Naturalmente, esse convite inesperado, muito pessoal, fez-me feliz, sobretudo porque eu jamais esperara por ele, tanto assim que era ele um homem de trato um tanto formalista. Eu subia nos anda em vez, freqüentemente. Nesse dia, Caymmi na roupa um pedaço de reboco, e eu devo ter feito uma careta lastimável, pois o que quer logo me disse:

- Venha comigo. Em casa nós arranjaremos isso.

Os comensais já o que esperavam, e entre eles o Goebells, que não escondeu sua surpresa ao ver me ali. Hitler levou Hume em sua companhia aos seus aposentos particulares e ordenou ao criado que trouxesse seu paletó azul-marinho.

- Tome, vista! - disse-me.

Usando seu paletó, entrei na sala de refeições, por trás de que ter, e senti-me ao seu lado, dando-me ele preferência aos demais. Pegou deus viu um detalhe que eu não reparada, pois estava muito nervoso.

- Mas o senhora está com as insígnias do Führer. Este não é seu paletó, não é assim?

Hitler respondeu por mim:

- De fato, o paletó é meu.

Durante a refeição, pela primeira vez, e crer dirigi-me perguntas de cunho pessoal. Soube então que eu fora ou por da decoração para a manifestação do dia 1 de maio.

- E a de Nuremberg? Foi também o senhor que fez? Mas foi um arquiteto que me apresentou o projeto! Ah! era o senhor mesmo! Outra coisa em que jamais pensei foi que o edifício de cobre os pudesse ficar pronto na data prevista.

Não me perguntou se eu pertencia ao partido. Parecia-me aliás que isso não lhe interessava, quando se tratasse de artistas. Em compensação, quis saber particularidades da minha origem, atividade profissional, das obras de meu pai e do meu avô.

Anos depois, Hitler lembrou-se daquele convite, dizendo:

- Durante Minhas inspeções, prestei atenção ao senhor. Eu buscava o arquiteto a quem pudesse confiar em meus planos de construção. Tinha de ser moço, como se sabe que esses projetos visam o para muito longe, no futuro. Necessito de um homem que, depois da minha morte, continue trabalhando com a autoridade que tiver recebido de mim. Eu vi que esse homem é o senhor.

Depois de anos de esforços vous, eu estava aos vinte e oito anos, possuído de muita vontade de trabalhar. Tal como Fausto, eu venderia minha alma por uma obra de grande vulto. E tinha encontrado o meu Mefistófeles. Esse Mefistófeles parecia não menos absorvente do que o diabo criado por Goethe. 

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